Encontro no cemitério
Autor: Daniel Fiúza
06/04/2001
Lucrecia tinha comprado uma camisola nova de seda preta e curtinha. Esperava com isso motivar Maurício seu marido. Ela achava que ele tinha uma amante, pois ele quase não a procurava mais. Lucrecia era jovem ainda, não tinha chegado aos trinta e cinco anos, tinha um fogo danado e o marido batendo fofo daquele jeito. Maurício chegou as dez como vinha fazendo já há um tempinho. Jantou tomou banho e foi ver televisão, Lucrecia também tomou banho se perfumou e vestiu sua sensual camisola. Quando foi ver... O marido já estava dormindo no sofá. Ela não se conformou, tentou acordá-lo, se insinuou fez de tudo, mas ele não deu sinal de interesse, ela até falou da camisola nova, comprada só para aquela ocasião, mas só ouviu um balbucio sonolento, dizendo: - Outro dia bem! Hoje to muito cansado... E voltou a dormir. Lucrecia mais uma noite foi dormir frustrada, cheia de malícia e tesão. Mas um pensamento começou a se formar na sua cabeça, até pensou alto: - Se ele tem uma amante, eu também vou arranjar um. Joaquim vinha dando em cima dela desde dia que a viu em um churrasco na casa do Wilter, um amigo comum. Ela nunca deu trela para ele, mas depois da noite frustrada da camisola nova, Lucrecia já pensava diferente. Um dia ela estava no ponto do ônibus, quando Joaquim passou de carro e parou: - Aonde você vai, quer uma carona? Falou abrindo a porta do carro. Encabulada ela respondeu: - Vou ao cemitério, toda quarta feira, vou visitar o túmulo de minha mãe, mas infelizmente não posso aceitar a carona. Depois disso se aproximou do carro e quase sussurrando falou: - Se quiser falar comigo vá ao cemitério São João batista, te espero lá bem atrás do velório onde tem uns bancos, mas não demore, tenho pouco tempo. O primeiro dia foi só de beijos e abraços, ali mesmo sob os eucaliptos sombrios e túmulos silenciosos. De vez em quanto interrompido por um lamento ou choro distante. Agora Lucrecia ia a ver a mãe no cemitério todas às quartas e sextas feiras, saía logo depois do almoço e só voltava às sete da noite. Maurício havia notado duas coisas em Lucrecia; Ela não mais enchia o saco dele á noite, e a outra era aquele sorriso de felicidade que há muito tempo ele não via nela. Mesmo os amassos esporádicos que ele tentava dar nela, ela saia fora. O marido começou a ficar preocupado, passou a ligar todo dia á tarde para casa. Com essas ligações foi que descobriu que a esposa nunca estava em casa por dois dias na semana, justo as quartas e sextas feiras. Naquela noite ao chegar foi logo perguntando: - Você nunca estar em casa quarta e sexta á tarde, o que faz nesse horário? – Vou ao cemitério rezar no túmulo da minha mãe! Exclamou dissimulada. - Cemitério, toda semana? Perguntou incrédulo. – Sim, todas as quarta e sextas, foi promessa, bem! Ela disse, dando por encerado o assunto. Maurício cada semana que passava ficava mais inculcado, ela tinha mudado muito, era outra mulher... - Será que ela tinha arranjado um amante? Pensou apreensivo. Essa duvida estava acabando com os nervos dele. Tomou uma decisão, iria tirar isso a limpo, na próxima quarta ele iria esperar Lucrecia na entrada do cemitério, queria se certificar se ela ia pra lá mesmo. Sentindo se traído, Maurício esperou a esposa na entrada principal do cemitério. Logo depois do almoço ele se plantou por lá. Antes das duas da tarde ele viu com seus próprios olhos, era ela... Lucrecia, com um véu e um terço na mão, entrar no cemitério e sumir. Maurício repetiu a dose na sexta feira e nos dois dias da semana seguinte, e sempre via Lucrecia entrar e sumir dentro do cemitério. Foi quando bateu um remorso danado nele, se sentiu o pior dos homens, desconfiando da mulher quando na realidade era ele que sempre traia. Quando Lucrecia chegou, na sexta, sete e trinta da
Noite, tinha flores na sala e duas entradas para o teatro. Naquela noite Maurício além do teatro levou Lucrecia para jantar fora e dormiram no motel. Ele agora se desmanchava em gentilezas com ela, sempre trazendo presentes e a cobrindo de mimos. - Boa idéia essa sua de me encontrar na outra porta do cemitério! Falou Lucrecia para Joaquim, enquanto se enxugava. - É... Ele caiu direitinho, respondeu Joaquim, abotoando a camisa. - Tinha certeza que ele não entraria no cemitério, desde criança ele tem verdadeiro pavor, pânico de cemitério. A vida de Lucrecia e Maurício continuou ótima, ele sempre a tratando bem, e ela sempre chifrando ele, ora com Joaquim, ora com outros que iam aparecendo, sempre as quartas e sextas. Às vezes a mentira funciona melhor do que a verdade.