Quando o Guerreiro Conheceu o Mago
Joseph entrou na taberna e pediu vinho.
Era um guerreiro novato e só pegava serviços porcarias.
- Vai pagar como guri? – quis saber o dono do bar.
O guerreiro de cabelos escuros tirou uma moeda de ouro do alforje.
Atirou-a em direção ao taberneiro.
Este mordeu a moeda e sorriu um sorriso onde faltavam vários dentes.
Logo Joseph tinha um jarro trasbordante a sua frente.
Bebeu com gosto horas a fio.
Estava muito irritado, pois acabara de pegar um serviço muito chato.
E pior: pagava muito pouco.
- Que melda! Pegar gárgula em telhado, resgatar filhas de nobres do terceiro escalão e matar monstrinhos... Assim não dá!–reclamou o guerreiro.
Sua jarra estava vazia novamente.
- Taberneiro! Mais vinho... - gritou o jovem.
- Tem mais ouro?-perguntou amavelmente o corpulento dono do bar.
Após procurar inutilmente, ele fez um sinal negativo com a cabeça.
- ENTÃO CAI FORA! – gritou o dono do bar.
O guerreiro levantou-se molenga.
Juntou sua espada ao alforje e saiu.
Esbarrou em um grandalhão de olhos amarelados, derrubando seu vinho.
- Maldito humano imprestável! –gritou ele.
Era um meio-ogro chamado Krog, conhecido nas redondezas pelas suas maldades.
- Desculpe. Eu lhe pago outro vinho... (assim que conseguir algum ouro). – disse Joseph.
Ouvindo as risadas dos companheiros e vendo que o jovem estava, bêbado o meio-ogro quis mostrar que era valentão.
Acertou um forte soco no estômago do rapaz.
Mas o jovem de cabelos escuros era puro músculo e mal sentiu o golpe.
- Olha... Vamos resolver isso numa boa. - pediu o guerreiro com uma ponta de irritação na voz.
- Numa boa o caramba! – gritou Krog dando-lhe um murro no rosto.
Joseph não se moveu, mas de seus lábios escorreu um filete de sangue.
Puxou uma cadeira derrubando um gremlin beiçudo.
- Opa, desculpe. – disse para o anão.
Girou o punho demolindo a cadeira na cabeça do meio-ogro.
- Está desculpado! Sempre tive vontade de fazer isso!- disse o gremlin com sua voz fina.
O rapaz já começava a esboçar um sorriso bobo, quando foi alertado pelo taberneiro.
- Meus parabéns rapaz, agora fuja! O bando de Krog vai te pegar!
O guerreiro de cabelos escuros não precisou de um segundo aviso.
Saltou em seu alazão e cavalgou para longe, não sem antes cair duas vezes.
Correu, correu e correu até o bichinho começar a espumar; olhou para trás e viu a poeira levantando ao longe.
- “Devem estar em uns vinte cavaleiros!” – pensou.
Soltou o cavalo cansado, que se dirigiu sozinho a um riacho próximo.
Joseph encostou-se em um carvalho enorme, grosso como uma casa.
A tarde não demorou em partir, dando lugar a um belo luar.
Logo eles apareceram.
Doze ogros de aparência estúpida, mas feroz e cinco meio-ogros mais inteligentes.
O guerreiro conservava ao máximo suas energias, enquanto eles se aproximavam sorrateiramente.
- Posso insistir em uma luta justa?-perguntou calmamente.
Os ogros caíram na gargalhada.
- Não foi com lutas justas que me tornei o pior meio-ogro de Guion!- riu Krog com um belo galo na cabeça. - Vou pendurar sua cabeça no meu telhado!
Joseph se levantou espanando o pó do corpo.
Segurou com mais força o cabo da espada.
- Vou levar vários comigo. – avisou.
Em alguns segundos as fagulhas começaram voar pelos ares, quando começaram a lutar.
O jovem de cabelos negros ficou colado à árvore para não ser atacado por trás, e logo já tinha derrubado três meios-ogros e um ogro.
A casca do enorme carvalho já estava coalhada de cortes, quando algo estourou entre eles.
Uma fumaça surgiu do chão.
Todos pararam espantados de lutar e ficaram observando um senhor que apareceu entre eles.
- Uuuaaah! Não se pode mais dormir em paz por aqui? – perguntou-se bocejando.
- Se não voltar logo de onde saiu vai dormir na minha sopa! – gritou Krog.
Todos caíram na risada.
- Isso não foi educado... – disse o ancião medindo-o de cima a baixo.
- E o que vai fazer velhinho?- grunhiu o meio-ogro.
O senhor tirou um saquinho do manto e o atirou a Joseph.
Ele abriu o saquinho, dentro havia um grão de centeio duro e ressecado.
- Coma! – ordenou o idoso.
Sem entender, Joseph engoliu o caroço e o senhor lhe apontou uma lasca de quartzo.
Uma suave luz atravessou o mineral quando este sumiu.
- Multiplix. E agora me deixem dormir em paz – disse.
Jogou uma trouxinha no chão e ela explodiu em fumaça.
O velho magro sumiu.
Os ogros olharam para o jovem e arreganharam os dentes.
Algo estranho acontecia dentro do rapaz de cabelos escuros, um formigamento que atravessava seu corpo todo.
O velinho, como você já deve ter desconfiado, era um mago, e pela sua bacia cheia de água via tudo.
Juntou as mãos e abriu.
Algo incrível aconteceu, e quando o rapaz olhou para o lado havia outro dele.
- Opa! Que é isso?- resmungou um imenso ogro vesgo.
Observando por sua bola de cristal, o mago sorriu.
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8,9 e finalmente 10!- sussurrou o mago abrindo os dedos.
A cada dedo que abria um guerreiro idêntico aparecia.
Logo havia vários Joseph´s e todos carregavam afiadas espadas.
Caíram sobre os ogros como uma maldição.
Quando uma copia era ferida sumia no ar.
Logo só havia um ogro vivo, e era Krog.
Joseph, o verdadeiro, pois não restava mais cópia alguma estava em pé banhado em sangue que não era dele.
- Posso insistir em uma luta justa?- perguntou ofegante.
Krog cagou nas calças e correu todo borrado.
- Eu vou é dar no pé! – gritou ele em pânico.
Saltou no lombo do seu cavalo e sumiu.
O guerreiro encostou-se no imenso carvalho, suspirando.
Ao olhar para cima notou algo estranho.
No alto, entre os galhos havia um telhado pontudo de telhas vermelhas.
Os buracos no tronco eram janelas naturais.
Joseph ficou intrigado, pois apesar da aparência de árvore aquilo se parecia demais com uma casa.
Rodeou o tronco, mas não encontrou nenhuma porta.
Toc-toc bateu o guerreiro.
Assustou-se com a resposta próxima.
- Quem é?- soou a voz roufenha do velho de dentro da árvore.
- Hã... Sou eu. O guerreiro que você salvou!- disse o jovem.
Aonde havia o tronco rugoso abriu-se uma porta.
Era o velhinho.
- Boa noite meu rapaz. Chamo-me Gillus, gostaria de entrar?- perguntou o senhor.
- Hã... Sim. –disse o guerreiro de cabelos negros.
Dentro da árvore era grande e confortável como uma casa, e o jovem jantou e bebeu com o idoso.
Gillus disse que sentia falta de aventuras, e todos seus antigos companheiros estavam mortos ou aposentados.
Joseph comentou como era infeliz sem um mestre para guiar seus passos.
E logo eles combinaram ficarem juntos por muito tempo.
O jovem dormiu muito bem em sua cama de palha, e no outro dia agradeceu a hospedagem.
- Muito obrigado, gentil Gillus!- agradeceu ele.
O mago fez surgir um pesado machado no ar.
- Obrigado nada. Esta vendo aquela lenha? Pode começar a cortar!- mandou o velho.
Meio emburrado Joseph foi começar a pagar pela hospedagem do ancião.
Mesmo com este e outros pequenos contratempos os dois ficaram muito amigos e partilharam muitas aventuras.
E fim!