Nelumbo nelumbium

Aquele dia amanhecera,não com o movimento festivo do anúncio da alvorada,mas com a cantilena dos habitantes da noite que prenunciavam a dolorosa despedida.Os pingos da chuva fina estalavam ao

contato com o solo húmido,formando finos veios a desembocar em pequeninos lagos.

As brancas flores do jasmineiro mergulhavam,atravessando o espelho d'agua e,logo,voltavam à tona onde rodopiavam ,lentamente,à semelhança de lindíssimas bailarinas,ostentando a gala da roupagem de finos tecidos.Suave perfume,incenso natural,impregnava o brejo,narcotizando aos que chegavam trazendo o pranto a implodir-lhes os corações.

IANODA,o sábio enfraquecido,tendo a energia vital a fugir-Lhe pelos poros,não se debatia,não implorava para que ASCÊNCIO o livrasse do sofrimento dilacerante da morte a corroer-Lhe o corpo doente.

Parecia,apenas,que ouvia os sussurros da eternidade a aplacar-Lhe as dores.Multidões silenciosas dos fieis discípulos se sentiam impotentes,restando,tão sòmente,velar o bondoso mestre.

IANODA,com extrema dificuldade,falou pela derradeira vez:"Caríssimos,sinto imensa alegria,pois a minha morte será o meu renascimento."Ela,em nada,mudará a beleza dos dias e a suavidade das noites.As árvores continuarão a produzir os preciosos frutos ,os raios de sol permanecerão com sua energia vivificante a acordar as criaturas recém natas,convidado-as a viverem sua alegre existência.Quando belo sinal enviar de meu túmulo derradeiro,vocês terão me esquecido"...

A assembléia,perplexa,entreolhava-se surpresa com a última frase."Como poderemos esquecer nosso valoroso sábio que,há muito,nos conduz à fonte cristalina da eterna sabedoria?..."

O velho bufo prosseguiu:"Interessa-Me ,agora,não o cenário deslumbrante que acostumei a contemplar,mas,sim a radiante luz incolor a cegar meus olhos das impressões ilusórias.As palavras doces do sábio invadiram o interior de cada ser,que fôra tomado por uma paralisia de encantamento ao acompanhar os mínimos gestos de IANODA.A intuição da assembléia atenta parecia entender os pensamentos de profunda sabedoria emitidos pelo bufo.Bastou que se

calasse a eloquência dispersiva de cada ego inconstante para que ASCÊNCIO falasse através o mestre amigo...Que maravilhoso ensinamento viveu a massa de devotos!Ao contrário do que se poderia prever:um contigente cego,errante a bater cabeça com cabeça,movido pelo chicote do pastor insensível a gritar,tenazmente:"Raça chucra e inculta,ouça minhas palavras!"Nascia,em cada consciência,à semelhança de pequeno facho a iluminar a treva densa,o sentimento de Unidade,o Uno a se manifestar na aparente diversidade.IANODA era o real gurudeva,"aquele que traz a luz".A multidão estava,agora preparada para ouvir e realizar a quintessência da felicidade."Do amor brotam a pureza do Ser,a consciência e a bem aventurança.Eram como gotículas d'agua que ,apóspercorrerem o lodaçal,sofriam a purificação,no caminho lento,sinuoso e persistente da Seiva benfazeja,para,finalmente,serem devolvidas pelas tenras folhas agradecidas,emprestar umidade à atmosfera.Transformadas em orvalho cristalino,se dissolviam no imenso oceano,de onde,um dia,sairiam para a

aventura do autoconhecimento de sua natureza infinda.

" Amigos,guardem,pois,as mensagens que fizeram deste pobre moribundo,mero instrumento.Abafem as angústias,calem o choro convulso,pois minh'alma partirá como simples bolha de sabão a se elevar e,súbito,romperá,libertando-Me para me difundir e me dissolver com o Todo"...