A rosa dos ventos
(in Seleção Natural)
Surge a Menina de cabelos ruivos e apanha na roseira, rente a janela do quarto do velho, um botão de rosa, murmureja uma dessas canções de pré-escola, senta-se na amurada que abraça o poço.
A flor, de tom vermelho rubro, sente a mão da Menina de cabelos ruivos a lhe estrangular, a menina em humano sinal começa a despetalar-lhe, a rosa por sua vez agüenta calada, pétala por pétala vão indo ao chão, como torpedos sobre arraial devastado, e ao cair das pétalas, a menina, ainda não contente com os seus gestos primitivos, pisa torcendo a ponta do pé sobre as falecidas capas de flor, a rosa sangra, chora, geme, treme, sua, contorce, falece, dali a pouco a Menina de cabelos ruivos se levanta, limpa o bumbum batendo com as mãos no vestidinho azul turquesa, deixa o talo de rosa morta na amurada, cantarolando, sai saltitante em direção ao cheiro de bolo.
No beiral o talo de rosa defunta.
O vento sopra..., cinza-cru renasce o céu, forte, sombrio, sopra o vento, cor sangue em raios vivos desfazem o azul, o talo é jogado ao fundo do poço, se tentar os ouvidos pode-se ouvi-lo ruir, sentir os espinhos tentando inutilmente agarrar-se às paredes do poço, e, o som do ser que cai como tábua em águas desconhecidas.
As pétalas são erguidas pelo vento, são levadas ao céu que se abre em funil, as pétalas são abertas em abraços róseos no céu, e, em redemoinho encontram os jardins suspensos de Deus.
Flávio Mello