o novo sábio

As criaturas do brejo,acostumadas com a presença impávida,solene do sábio bufão acocorado sôbre a superfície polida das rochas marginais,sentiam que a medida em que êle crescia em sabedoria,declinava em vitalidade.Durante inspirada reunião ,um fato causou enorme perplexidade.IANODA,o sapo ,ao se refrir à imortalidade,

falou:"Caríssimos,quando o botão da acácia amarela se abrir e perfumar ,suavemente, a brisa,quando o fruto maduro cair no chão devolvendo as sementes a terra,terá,enfim,chegado o grande momento em que entregarei o meu corpo cansado ao grande banquete"...

A multidão ,estremecida,entreolhava-se e pensava:"Que será de nós quando a orfandade arrebatar de nós o nosso mestre,que nos traz a luz?"

A garça ,do alto de suas pernas trêmulas,sussurou:"Cuidadremos para que isto não aconteça>Sirvamos-Lhe a água mais pura,poupemos-Lhe todos os esforços para que tenhamos nosso mestre por muitas primaveras".

" Prezados irmãos,interrompeu a coruja Mazda.Há muito venho observando o querido sábio.Sinto que êle pertence mais ao cosmos do que a nós.Não podemos impedir-Lhe tão glorioso destino".

Vou contar-lhes o sonho que tive com IANODA".

Num de seus maravilhosos momentos,em que,com suas palavras nos levava ao cume da vivência mística ,pude observar-Lhe as mutações.

Transformara-Se ,a partir de imóvel bloco de pedra esverdeada,em drusas de cristais que irradiavam feixes luminosos para todas as direções ,e ,logo retornava a aparência de sapo bufão.Interminável contingente de rostos substituiam o corpo envelhecido de IANODA.

Cada qual exibia a expressão de um sentimento;ódio,felicidade,angústia,paz...Surpreendi-me ao ver minha face projetada no queridosábio.IANODA,servindo-se de minha fisionomia,era só doçura,seu olhar trazia a expressão de séculos,milênios de vida...Mazda concluiu:"Queridos irmãos,senti que a jornada de nosso pai estaria por se encerrar."Permitamos que Êle alce o grandioso vôo dos avatares"!...Neste instante,todos os olhares se voltarm para IANODA,que,imóvel,a tudo escutava.Sua figura mais se assemelhava a um espectro,por onde se podia atravessar-Lhe a transparência e vislumbrar o conjunto harmonioso de flôres a adornar-Lhe a retaguarda.Quão inesgotáveis horas santas a preencher nosso interior com infinito êxtase.Nossas alminhas escarvizadas pelo impiedoso regozijavam de alegria ao contato milagroso.A multidão permanecia silenciosa ante ao altar de adoração.

Os últimos raios solares do entardecer já não aqueciam e iluminavam o brejo.

Esperavam,tão sòmente,que as sombras da noite cobrissem a todos.Finalmente,leve esteremecimentopercorria o corpo do velho sábio.Acordando do profundo sono ,onde percorreu regiões longínquas,iniciou canto devocional,cuja voz suave,parecia ecoar de um serafim.

ps;texto extraido do livro do autor"A viagem a Ilha de Saves" onde o protagonista é um sapo cujo nome IANODA(inverso de ADONAI) segue sua jornada evolutiva.todos os personajns têm nome de deuses.