Os conselhos do sapo IANODA
"SIVA,SIVA,minha boa SIVA!"...
Tú és a libertadora d'alma!...Quantos dilacerantes sofrimentos poupaste com tuas quelíceras abençoadas?...Saibas que legiões agradecidas cultuam teu doloroso mister.Esses inanimados corpinhos que balançam ao sabor do vento,em tuas teias,há muito que alçaram o vôo da liberdade.Hoje, são como elegantes albatrozes a atingirem as alturas excelsas rumo ao infinito,embalados pela formidável envergadura das asas.
Morreu,sim a pobre mariposa,ou o mísero vaga-lume,mas,graças a ti,nasceu o poderoso pássaro azul de intensa divindade...
Querida SIVA,quantos a vagar as rudezas das escarpas do caminho,indagam a si mesmos:"Quem desta alma fechada me liberta?"...
Ao ouvir tais palavras, a aranha já não mais se sentia réu confesso.Prosseguiu IANODA;"Tu és o sagrado instrumento da maravilhosa transformação""Quizera,eu,ser arrebatado em teu novelo mortal para não conhecer a triste senectude...""Infelizmente,nenhuma SIVA interromperá meu penoso caminho..."Conhecerei muitos sois até que a luz me falte..."
Longos minutos de profundo silêncio marcaram a última frase .Que destino cruel daquela alma cativa a ter que saborear os intermináveis segundos da longa existência ,sem ao menos contar com a ajuda oportuna,amiga a observar-lhe o duro destino.SIVA admirava a resignação do sábio.
Enfim,o discernimento quanto a sua necessária presença no brejo,a colher dezenas de criaturas nas suaves redes ,por ela recidas,finalmente,havia chegado.
Era,pois,um ser ímpar naquele afã.Percebendo que IANODA percorria regiões longinquas,a aranha cabisbaixa,repeitosamente,afastou-se,deixando o sapo em suas eternas divagações.
"Concedeis muitos sois,até que a luz me falte"...
Leitor amigo,quando um sábio é colhido pelas teias visçosas da incerteza e diz"Quem desta alma fechada me liberta?""Quizera ,eu ,ser arrebatado para não conhecer a triste senectude"...,em verdade,êle está mais próximo da libertação.Após emitir o lamento último,qual filhote cativo,solitário na madrugada sem estrêlas a alma de IANODA iniciará o canto mais belo e mais frequente do que nunca,ao sentir que irá para junto do Deus que a serve...
Platão,em sua obra Fédon,afirma"Os homens ,com o pavor que têm da morte,caluniam até os cisnes"...O grande filósofo diz;"Nenhuma ave canta quando sente fome ou frio,nem mesmo o roxinol ou a poupa cujos cantos são lamentos doridos"...
Segundo Platão,as aves possuem o poder divinatório que as faz cantar de modo tão sublime,como jamais o fizeram no início de suas vidas.Prezado amigo,o nosso Mestre está próximo ao "estado dos cisnes".Êle nos fará entender que,da mesma forma que os belos e elegantes seres voadores têm a premonição,a pré ciência de seus ocasos liberatórios,tambem nós,simples rastejantes e saltitantes,cantaremos a imortalidade da alma"!...
ps.extraido do livro do autor "Viagem a Ilha de Saves"