O Político
A juventude ainda não o credenciava a uma cadeira na assembléia, por isso todos os dias, no ultimo mês, seguia o mesmo caminho para aprender com um mestre a arte de ser um bom político.
Não gostava muito de ler e estudar, mas queria dar-se bem e para isso a política seria o melhor caminho.
Tinha grande capacidade de seduzir pessoas e muitos diziam que o seu carisma era enorme. Por diversas vezes ficara em frente ao espelho do banheiro, discursando para uma platéia que ele imaginava delirar com suas palavras.
Mesmo com todos esses predicados, sabia que para ser eleito seria necessário aprender com o “ mestre” a arte da política que também era conhecida como a arte da malandragem.
Enquanto andava, pensando com seus botões, fazia seus mirabolantes planos para quando atingisse o mais alto posto na política.
Chegando ao destino bateu à porta e aguardou.
O mestre apareceu na porta e convidou-o a entrar .
-Entre presidente.
-O senhor acha possível eu ser presidente?
-Claro! Na política tudo é possível, até mesmo a realização de absurdos.
Ele entrou e depois de sentar à frente do mestre, perguntou:
- O senhor falou sério ou é brincadeira?
Ao que o mestre respondeu:
-Você deveria saber que eu nunca brinco, mas vamos à aula.
-Hoje vou ensinar como seduzir eleitores e garantir a eleição para qualquer cargo. Prometa fazer tudo que o povo deseja: Empregos, bons salários, férias em dobro, diminuição da jornada de trabalho e aposentadoria com menos tempo de trabalho.
-Mas, como vou conseguir realizar tudo isso?
-Quem disse que você precisa realizar? O político é como um ator.
-Ah! entendi a jogada.
-Depois passe a falar da educação, da diminuição dos impostos, 14 salários e garantia de emprego depois de 5 anos de serviço. Fale das praças que vai construir, da melhoria do transporte, da criação de universidades para os jovens, incentivo à cultura e principalmente segurança, e saúde e nunca esqueça de atacar os problemas da localidade onde estiver discursando, se possível faça pesquisa antes para saber das necessidades daquelas pessoas.
-Será que elas vão acreditar ?
-Não o precisa se preocupar, as pessoas gostam de ouvir promessas, mesmo sabendo que elas não serão cumpridas. Sempre que falar, acredite naquilo que fala. Tenha determinação, não tenha medo das críticas. Quando elas surgirem, diga que elas vêm de pessoas invejosas.
-Quando alguém apontar seus erros, sinta-se ofendido, fale em público perante as câmeras, diga que irá processar o mentiroso. Não se esqueça de que os perseguidos sempre são mais queridos, por isso seja a grande vítima.
-Caramba! são tantas as recomendações que acho que não conseguirei guardar todas de uma só vez.
-Não se preocupe tudo isso vem com a prática e a vivência entre seus pares, pois eles seguem mais ou menos a mesma linha, até mesmo os seus adversários de outros partidos. Quando for possível, contrate pessoas para aplaudi-lo diante de qualquer besteira que venha falar em seus discursos, a massa geralmente não consegue reter nada do que ouve, apenas escuta os aplausos.
- Será que isso dá certo?
- Coloque pessoas de sua confiança circulando entre a multidão e elogiando a sua pessoa. Elas devem falar com o máximo de pessoas possíveis, pois estas irão dizer e repetir as mesmas coisas que ouviram como se fossem verdade.
- E se alguém descobrir?
- Seja discreto e só as encontre em outros lugares.
- Sempre que pedir ajuda financeira para sua eleição, prometa àquele que lhe dá o dinheiro, uma contrapartida ou seja, facilidades dentro do poder para que eles possam recuperar muito mais do que contribuíram. Nestes casos procure cumprir as promessas, afinal o dinheiro que eles irão ganhar não será o seu e sim o do contribuinte.
- Se for eleito para cargo legislativo, procure lançar vários projetos de leis, para que o povo pense que está trabalhando e sirva-se do poder, viva o poder, seja o poder e somente assim irá conseguir sobreviver dentro da política por mais tempo.
-É, mas quase tudo que o senhor me falou parece um pouco antiético.
-E desde quando a política atual é baseada na ética?
O aluno ficou ainda com o mestre por mais de uma hora, ouvindo e anotando todas as recomendações, seguia um caminho fácil de se dar bem. Sabia que teria que entrar no esquema para não ser expurgado da corriola. Tinha que agir de acordo com os interesses dos grupos.
Quando se despediu do mestre ainda ouviu dele naquele dia, uma frase que iria nortear pelo resto de sua vida e que também acalmava um pouco sua consciência.
“O político nunca diz o que pensa, ele fala apenas o que o povo quer ouvir”.
Depois de memorizar a frase, um sorriso malicioso e safado surgiu em sua face, quando alguém que passava lhe falou:
-Boa noite, deputado.
16/01/06