O VELHO CARREIRO

Levanta bem cedo lá na sua palhoça e já começa com a sua luta. Faz o seu café, enquanto a sua mulher prepara a sua matula.

Ele caminha até o velho curral de lascas de aroeira e fica a olhar os seus oitos bois ali deitados esperando ele chamar. E encostado no moirão da porteira os seus olhos começam a lacrimejar porque ele sabe que tudo está prestes a acabar.

Caminha até seu velho carro e começa a preparar olha os fueiros, os cazis das cangas. Pega sua velha esteira e coloca no seu carro, unta os coção pro carro cantar. De cabeça baixa vai até o curral e os bois ele começa a chamar. Um por um vem até ele pra cangar ele coloca canga, abrocha e depois abotoa eajojá, ajeita um por um, parece que vai desfilar.

Impõem a sua guiada e os nomes começa a falar. Caminha até o carro pra engatar. Pega sua matula no velho embornal e pelo estradão vai pra sua jornada continuar e pela estrada afora seu carro vai a cantar e todo feliz, porque seus bois ele sabe mandar.

E com sua guiada na mão e que ele defende o seu ganha pão. A viagem vai durar dois dias e eles vão a caminhar, os bois já sabe o caminho. O candieiro vai só para as porteiras abrir e pra sua companhia a noite chega e os dois cansados pela caminhada debaixo do carro já carregado eles vão dormir e o velho carreiro fica ali deitado sobre a luz da lua olhando seus bois a pastar.

No outro dia levanta cedo pra jornada continuar e pela estrada a fora, os dois vão a cantar. E lá no ribeirão para pra almoçar e pra boiada beber água e descansar e quando chega do outro lado com a sua guiada na mão ele começa a gritar, vem pavão, jeitoso, firma, cartão namoro, brilhante e brioso e os gritos principalmente com a sua famosa guia coração e formoso e lá no alto do morro fora do perigo ele para. Pra eles descansar. Forma de agradecê-los pelo esforço que tinha acabado de fazer.

E pelo retão, os dois seguem, orgulhosos , porque sua boiada na subida não parava. Porquê seus oito bois não precisavam de reboque não. Orgulhoso mas triste porque era a última viagem seus bois e seu carro bem cravejado com toda tristeza ele vai aposentar mas seus oito bois nem por toda riqueza do mundo ele não vai deixar acabar.

E até hoje a sua junta de guia ao olhar a estrada não falam mas chora de saudades e pro velho carreiro só sobrou um banquinho bem ao lado do morão pra suas histórias contar.

E quando conta fica a chorar e fala que um dia ainda vai voltar e enquanto isto não acontece fica ali na sua palhoça a esperar.

ARA DO QUARA

Ara do Quara
Enviado por Ara do Quara em 19/05/2008
Reeditado em 23/05/2008
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