Não voltemos ao parque.
Ela acordou e pensou um pouco na vida antes de levantar da cama.Lembrou do que tinha feito no dia anterior, lembrou que tinha recebido um elogio do chefe, tinha brigado com a mãe e que esqueceu de passar no banco pra pagar a conta de luz.
Ela lembrou que tinha que ir ao cabelereiro naquele dia.Subtamente ela lembrou do sonho que tivera naquela noite e começou a refletir sobre ele.
Em seu sonho ela estava num lugar bonito; um jardim, cheio de flores, pessoas sorrindo, crianças brincando, um parque muito alegre e cheio de felicidade.
De repente e rapidamente insetos e pragas começaram a sair de dentro das flores e comê-las e elas se acabaram e murcharam.
O céu, de tão azul que estava enegreceu e suas nuvens se disciparam. O sol, antes com um brilho tão intenso nem parecia que tinha estado ali antes.
Ela olhou para baixo e viu que as crianças que brincavam agora mais pareciam caveiras esqueléticas e não estavam mais brincando, agora estavam se devorando umas as outras e seus pais que também conversavam perto delas agora estavam discutindo.
Os casais que passeavam de mãos dadas pelo parque estavam se estapeando e tinha tanto ódio em seus olhares que pareciam nunca ter se amado.
Ela vendo tudo isso gritou:"Chega!"
E todos olharam-na.
Silêncio.
A única coisa que se ouvia era a sua respiração ofegante e temerosa.
Antiu-se só, abandonada, desesperada, sentiu como se fosse a pior pessoa do mundo e que todos queriam tragá-la ao mesmo tempo.
Correu.
Via nos olhos deles ódio; tanto ódio que se deixasse pegarem-na devorariam viva.
Gritou.
Ninguém escutava pois na verdade todos estavam possuídos por aquele ódio infernal.
E continuou correndo como se tivesse esperança mas sabia que não tinha.
Tropeçou e caiu com o rosto no chão e suas mãos que tentaram amortecer a queda sangraram.
Ela não entendia porque aqueles que há alguns minutos tratavam-na tão bem tentavam ferí-la.
ela tentou levantar-se mas no mesmo momento eles puseram as mãos nela e tentaram matá-la.
Ela lutou pra salvar-se, resistiu o quanto pode mas sabia que sozinha não conseguiria.
Já sem forças e no seu último ar de fôlego conseguiu sussurrar:"Socorro."
Ela já estava muito machucada e exausta pra perceber que tudo tinha sumido.Lentamente abriu os olhos e descobriu que não existia mais nada que pudesse ferí-la ou que deveria temer e novamente a alegria tomou conta do seu ser.
Sentiu-se agradecida e feliz naquele momento mas depois de alguns minutos ela sentiu novamente o cheiro das flores do parque e as crianças voltaram a chamá-la e os casais a sorrir pra ela.
E voltou ao parque.
Depois de lembrar de todo o seu sonho, como se fosse um tanto comum levantou da cama e continuou o dia normalmente.
Muitas vezes deixamos o Mundo, muito convidativo com suas flores perfumadas e tudo muito bonito nos levar até ele; quando começam a mostrar o que tem por tráz de cada coisa maravilhosa e a querer nos tragar temos medo e pedimos socorro.
O socorro vem mas depois de um tempo voltamos pra lá de novo.
Não voltemos ao parque.
"Senhor, perdão por todas as vezes que voltei lá."