Aritmética do Amor
Aritmética do Amor
Toca o telefone.
- Alô?
- Oi, Arnaldo. – com um tom azedo.
- Oi querida, tudo bem? – intrigado.
- Na verdade não, Arnaldo Antônio Gusmão! Precisamos conversar e sério.
Ele pensa, - Nome completo, xiiii, lá vem bobagem...
- O que foi agora querida?
- Não me venha com querida Arnaldo. Já faz nove anos que você me enrola, entre namoro e noivado, agora já chega, você decide se casa ou compra uma bicicleta.
- Casa ou compra uma bicicleta? Já vi que tem o dedo da coruja velha na história.
- Não fale assim de minha mãe Arnaldo! Mas, realmente conversei com ela e decidi dar um basta nesta nossa mal fadada história, ou você casa ou esta tudo acabado. – chorando.
- Calma querida, vamos conversar... – ouve a batida do telefone.
Sentado em sua poltrona abre uma lata de cerveja e se entrega a seus pensamentos.
Velha dos infernos mesmo, sempre se metendo. – da um gole na cerveja. Estava tudo bem, a Claudia já não falava em casamento fazia um bom tempo. Mas a jararaca tinha que meter o bedelho. Pensando bem, foi até bom. Agora posso me dedicar e dar mais atenção as minhas “pombinhas”. A Aninha da padaria, que boca. A “polaquinha” do escritório de contabilidade, que seios. A “Sandrinha” do 301, que bunda. – da um longo gole na cerveja. É, mas a Claudia eu conheci com quinze aninhos. Ela é inteligente, bonita e tem um corpaço e eu gosto dela. O problema é aquela velha louca da mãe dela. – da outro gole na latinha que esta quase vazia. É, mas já tenho trine cinco anos, esta na hora de sossegar, e no mais tem o carro que quero comprar e só com o meu salário não dá. – da o último gole na cerveja. Tenho que pensar de forma clara e racional neste assunto.
Levanta vai até a geladeira a apanha outra lata de cerveja. Senta novamente na poltrona abre a latinha, da um longo gole e volta aos seus pensamentos.
O que vou ganhar e o que vou perder casando? – da um gole na cerveja. Em relação à “mulherada” não vai mudar muita coisa, pois mesmo casado vou poder continuar dando minhas escapadas, ponto positivo. Terei roupa lavada, comida e a Claudia sempre em casa quando chegar do serviço, mais um ponto a favor. Por outro lado perderei minha liberdade de chegar à hora que quiser sem dar satisfação a ninguém, ponto negativo. Mas em compensação não terei que aturar aquela velha coruja, toda vez que vou ver a Claudia, nem mesmo olhar para cara dela, talvez aos domingos mas isto eu agüento. – da outro gole na cerveja. E tem é claro a questão financeira, que é aritmética, matemática pura. Eu ganho R$ 1200,00 reais limpo por mês, a Claudia ganha R$ 1600,00 reais limpo por mês o que dá R$ 2800,00 reais. De aluguel iremos gastar uns R$ 700, 00 reais. De Água, luz e telefone mais uns R$ 300,00 reais. De comida, minha cerveja, não vai passar de R$ 400,00 mês. O meu carro novo, popular, mas zerinho, mais R$ 800,00 reais. Sobrarão ainda R$ 600,00 reais para gastarmos, da para comer fora uma vez por semana. – da um longo gole na cerveja. Como eu nunca pensei nisto antes, como sou burro! – termina com o restante de cerveja na lata.
Pega o telefone apressado e liga para a noiva.
- Alô?
- Com quem gostaria de falar? – com voz de desdém por ter reconhecido o futuro genro.
- Oi dona Solange. A Claudia está?
- Não deveria, mas vou chamar.
- Alô. – com voz de quem estava chorando.
- Oi, amor! Você não me deixou falar.
- E o que você tem para me dizer Arnaldo Antônio Gusmão.
- Amor, não fala assim. Você sabe que eu te amo. Sem você eu não vivo. Parece que falta um pedaço de mim. Quando você disse que estava tudo acabado foi como se o chão sumisse de baixo de meus pés. Se você algum dia fizer isto eu acho que morro.
- Eu sei amor, mas eu não agüento mais viver longe de você. Eu quero casar ter nossa casinha, nossas coisas.
- Você esta certa amor! Pensei muito a respeito de tudo e cheguei à mesma conclusão que você. Esta na hora da gente juntar nossos trapinhos. É só você marcar a data que nós casamos. Se quiser vamos agora mesmo ao cartório.
- Arnaldo não brinca. Você esta falando sério?
- Dou minha palavra de honra. Querida, homem que é homem quando empenha sua palavra não volta atrás.
- Ai, amor que felicidade. Você me fez a mulher mais feliz do mundo!
- Eu sei amor. Então quando vai ser amanhã?
- Calma, querido. Vamos fazer as coisas direito. Vou mandar fazer o vestido de noiva, falar com o padre, ver a decoração da igreja, mandar fazer os convites do casamento, a lista de convidados que serão muitos, as damas de hon...
- Mas querida, isto não vai ficar muito caro?
- Não se preocupe querido. É tudo uma questão matemática. Aritmética pura. Já fiz todas as contas e com o que eu ganho mais o que você ganha não teremos problemas para pagar. Talvez nos apertemos um pouco no primeiro ano de casado, mas isto não se compara a nossa felicidade, não é mesmo amor?