Tarde Demais não Existe
Aconteceu que ela acordou atordoada de uma noite de relâmpagos, trovões, espirros, desconfiança e muita ventania.
Nada de ventilador, era seu inimigo ferrenho àquelas alturas!
Em momentos como este, Clara, sempre se lembra do quanto era feliz outrora e intrigava-lhe não fazer mais parte de sua própria festa. De repente nada mais era próprio e, ao mesmo tempo, se sentia repleta de pertencimento - um pertencimento divino.
Clara é filha do amor, como ela mesma se denomina.
- Ô Clarinha, mas você anda tão tristinha esses últimos anos!
Divagando, ela responde com a ludicidade que é lhe é peculiar:
- Acho bonito quem faz aniversário em maio, você sabia?
- Ai, clara, só você pra me fazer ver cores diferentes nesta manhã burocrártica!
Ela não entende meu comentário.Sem dúvida, Clara é filha do amor; e sabe bem, só não põe em prática. Contudo, anda tão determinada a ser ela mesma, que em nenhum instante se afasta de suas lembranças embrionárias. Esmiúça tudo: idéias e, inclusive, poesias. Não se dá mais ao luxo de não ser seletiva, por outro lado, também abandonou a certeza de que a solitude lhe traria grandes descobertas - agora quer tudo no plural.
- Será tarde demais?
- Clarinha, flor, aprenda: tarde demais não existe.