Lá no Cícero
As aulas são diversões, um acontecimento preliminar ao recreio – a maior das alegrias – o encontro com os colegas, com as garotas.
De soslaio, acanhadas, elas vêm e vão. São mais espertas.
Tudo é diversão, preocupação só com provas e mesmo assim nem tanto. Como é maravilhosa essa convivência.
As meninas ainda são garotas. A saia pregueada dá o “charme”, os rostos cheios de sorrisos e olhares acanhados completam a primeira impressão. Crianças, gurias, futuras mulheres.
Ingenuidade, cabelos soltos pululam ao som da Atlântica. Em algumas é possível ver o mar, calmo, zen, mas às vezes bravio. Todos os meninos querem saber o que se passa dentro daquelas cabecinhas que nada falam. Cochicham por entre os corredores, risinhos. Romances só com os mais velhos, conosco, amizades. Como isso nos chateia! Desejamo-las para nós. Mas a malícia ainda está longe, somos só meninos.
Elas olham para os homens. Maldita natureza que nos dá o desejo e a convivência e não nos dá as armas.
Lindas, pensam em romance, em beijos, em carinhos e no cavalheiro que as vêm buscar. Suas curvas ainda se torneiam por um corpo virginal. As brincadeiras são infantis, maldades não encontram eco. A timidez, presente nos guris, não os deixa ir adiante. Quanto tempo perdido!
A aula de educação física é o melhor dos momentos, é a hora que as veremos de shortinhos. Pernas lindas, cheias de penugens que as podemos desejar sem culpa.
Os idos de 1980 se foram, mas as lembranças teimam em nos trazer as satisfações pueris de outrora. Caros colegas, como foi maravilhoso tê-los nesses anos de intensa felicidade clandestina.
Obs.: Cícero é a Escola Municipal Cícero Penna (Avenida Atlântica, 1976, Copacabana, Rio de Janeiro).