AMELIA É QUE ERA MULHER DE VERDADE

AMELIA É QUE ERA MULHER DE VERDADE

Marcial Salaverry

Vamos chamá-la de Amélia mesmo, para concordar com a música tão famosa.

Amélia desde que nasceu foi preparada para ser uma perfeita dona de casa, como era costume na época em que ela teve a má idéia de nascer mulher.

Seus pais não se preocuparam em dar-lhe estudo, e sua mãe, seguindo a tradição familiar, transformou-a em uma perfeita dona de casa. Sabia cozinhar, lavar, passar, tricotar, bordar, e servir ao homem que a escolhesse ou que lhe escolhessem para casar.

Sua opinião para nada era pedida. Para que? Bastava-lhe obedecer as ordens que lhe eram dadas, e cumprir direitinho suas obrigações familiares.

Casou com o filho de um amigo de seu pai, visando interesses comerciais das duas famílias.

Assim, às obrigações anteriores, também deveria atender às necessidades do marido, que sempre se revelava muito exigente. Queria roupa bem lavada e passada, camisas engomadas, comida bem feita e a seu gosto. E também, eventualmente, rapidez na cama.

E Amélia que se atrevesse a contrariar seus desejos, que eram ordens.

E também que fechasse os olhos para suas saídas noturnas. Os tradicionais “chopes” com os amigos...

Claro que Amélia, apesar do nome, tinha alguns pensamentos de rebeldia, acabou se cansando de sua situação. E como Abelardo tinha seus chopes amigos, ela começou a ter suas idas às reuniões do Grupo de Beneméritas, os tradicionais chás com as amigas.

Nesses chás, começou a conversar com algumas senhoras de idéias mais avançadas e que, como ela, começavam a se cansar de sua subserviência descabida.

Idealizaram uma instituição voltada para a defesa da liberdade da mulher, e iniciaram campanhas de protesto contra a situação, sempre procurando conscientizar a opinião publica, sobretudo a feminina, contra a opressão do ”macho dominante” e sempre dando ênfase especial à igualdade de direitos e deveres, coisa que inexistia na época.

Claro que seus maridos se opuseram. Quase todos. E aqueles que quiseram fazer pressão para que elas desistissem desse ambicioso projeto, acabaram ficando sem as esposas, que preferiram separar-se para servir de exemplo, mostrando que as mulheres tinham, como tem até hoje, condições para se manter por sua própria conta, quando não encontrar compreensão e entendimento dentro de seus lares.

Amélia particularmente teve que lutar muito por sua sobrevivência, pois Abelardo tratou de dificultar ao máximo seu caminho.

Anos depois, ela que havia conseguido se transformar numa empresária de sucesso por seu conhecimento de moda masculina, teve que socorrer o ex-marido, que acabou perdendo sua fortuna em noitadas de jogo e mulheres.

Coisas da vida, que paga o devido prêmio a quem sabe vive-la, e cobra o tributo a quem não sabe. Tudo é questão de fazer a coisa certa, na hora certa.

Marcial Salaverry
Enviado por Marcial Salaverry em 02/05/2008
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