O desespero indigente de Pedro.
Pedro sentia-se estranho. Uma sensação que não sabia ao certo descrever, parecia um misto entre angustia e desespero, vontade de gritar, chorar e se cortar, ou ambos ao mesmo tempo. Vontade de quebrar tudo a sua volta. Vontade de se matar. Seis músculos das costas doíam e estavam duros como um tijolo.
Realmente, não sabia o que estava sentindo, mas sabia que isso o matava aos poucos. Não sabia o que estava sentindo, mas sabia como se manifestava, ficava horas sentado em frente ao computador, escutava musicas que fariam outras pessoas suicidarem-se, brigava com todos que se importavam com sua situação deplorável.
Primeiro pensou que o que sentia era causado por suas ultima semanas em uma faculdade de merda, na qual não gostava das pessoas, muito menos do ambiente. Pensou que estava estressado com sua monografia atrasada ou com as ultima cobranças para que terminasse o curso.
Constatou que não. Não foi a sua estadia na província que o deixou assim. Começou a observar à sua volta, talvez fosse sua entrada nas ultimas estáticas de desemprego que o deixaram assim, já que agora não era mais um graduando, mas sim um graduado desempregado. Outro engano. Ele estava bem procurando emprego e sabia que uma hora ele conseguiria arrumar alguma coisa.
Quanto mais indigente esse sentimento ficava, mais desesperado Pedro também ficava. O que poderia causar tamanho mal? Era como se uma ulcera o corroesse por dentro destruindo tudo que mais achava belo. Era um amargo sentimento de impotência. Não, pior de tudo era o sentimento de indiferença que o preocupava, não sabia o que lhe causava dor e não tinha mais compaixão pela dor de outras pessoas. Era como se estivesse morto, sem, no entanto, estar enterrado.
Ele refletia. Seria alguma coisa como abandono o que estava sentindo? Já que, a pessoa que ele mais queria que estivesse ao seu lado, o deixou e foi tentar a vida em um outro lugar perto do mar. Justo na hora em que ele mais precisava dela ao seu lado, ela decidiu ir embora. Prometendo que voltaria, que era somente um teste, uma experiência, férias de sua vida passada.
Ele sentia-se mal por se descobrir tão dependente de uma pessoa. Acreditava que seu caminho era solitário, mas acabou descobrindo que nenhum homem é uma ilha. que precisava de alguém ao seu lado. Que sentia falta de pessoas e sentia-se abandonado. Mas, ainda não era isso o que o revoltava.
Essa crise poderia estar no fato de essa pessoa, que se foi prometendo voltar, estar agora morando com outras pessoas, fazendo tudo o que estaria fazendo se estivesse com ele? Vivendo uma outra vida e ainda assim reclamando seu lugar ao seu lado? Como se pudesse cuidar de duas casas ao mesmo tempo. Como se pudesse estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Não, isso realmente o incomodava, mas não era o centro da questão.isso o deixava triste e magoado e, acima de tudo solitário, mas ainda assim, não era o que estava ocasionando essa crise.
Por muitos dias ele pensou. Por muitos dias ele sentiu esse desespero sem saber o que era. Era como se uma onda do mar niilista o pegasse e o puxasse cada vez mais para o fundo. Não via mais sentido em nada. Nada tinha cor. Estava preso em um inferno monótono, sem nuances ou peculiaridades.
Chegou a conclusão de que somente podia ser uma coisa tudo aquilo que estava sentindo. Ele mesmo estava provocando aquilo. Ele mesmo estava provocando esse desespero e, ele era causado pelo medo.
Estava com medo, sabia que sua antiga vida está agora acabada. Junto com a faculdade, um ciclo encerra-se em sua vida. Está perdido. Não sabe o que quer, nem o que é bom ou ruim. Nem se existe alguma coisa boa ou ruim.
O antigo modo de viver morreu, e agora ele esta velando a morte de seu antigo espírito. Está perdido por que vela um cadáver, mas não nasceu nenhuma criança nova para ocupar seu lugar.
Seus amigos não são mais os mesmos, suas conversas não são mais as mesmas, seus gostos não são mais os mesmos. Ele olha pra trás e não se reconhece mais. Definitivamente, aquele velho jovem esta morto. Mas quem nascerá para tomar seu lugar?
Seu antigo modo de viver, pensar e sentir estão mortos. O que será agora de tudo aquilo que acumulou até aqui?
Duvidas e mais duvidas e mais duvidas. Medo e mais medo e mais medo. Pedro terá coragem e força para fazer essa nova criança nascer?
Em meio a uma risada irônica, uma ultima reflexão: se ainda acreditasse em amigos imaginários, está seria a hora perfeita para começar a rezar.
Aguardo seu comentário. Não apenas sobre como esse texto está escrito, isso também é muito importante e ajuda-me a sempre melhorar minhas letras. Mas, o que realmente me interessa é a relação entre o texto, como obra viva e independente, e você, leitor. A que ele o remete, como, por que? Essa é a beleza de um texto: um sentimento meu cristalizado, conecta-se a um sentimento seu e, assim, torna-se um sentimento universal.
Obrigado.