A SOLIDÃO NA ALMA

Naquela noite, o vento parecia mais frio. Perdia-se ao longe o olhar do rapaz, buscando encontrar algo que já não tinha.

Sentado onde estava, ele via o parque com os seus brinquedos. Observava as crianças e toda a algazarra presente na praça, nas noites de domingo. A missa havia terminado. Lembrou-se que quando criança, costumava brincar naquele parque.

As beatas caminhavam para casa. Recordou-se de sua mãe. De sua mãe nas missas de domingo. E aquela noite de domingo estava mais triste e mais fria.

O relógio da igreja bateu 21 horas.

Seu olhar desviou-se para o canteiro de rosas próximo da igreja. Depois, fixou o olhar em duas árvores que ficavam na lateral esquerda. O vento balançava fortemente as suas folhas.

Casais de namorados passeavam de braços dados. Lembrou-se que nunca tivera uma namorada. O vento soprou mais forte neste momento.

Uma lágrima caiu-lhe dos olhos. Mas o rapaz não percebeu. Estava concentrado em sua tristeza. Sentia uma grande falta em seu coração.

Levantou-se, de repente, e seguiu. Não em direção à praça. Seguiu para a avenida. E caminhou. Dobrou o primeiro quarteirão e caminhou muito mais. Desceu para os lados de uma rua escura.

Caminhava firme, não mais pela avenida. Caminhava numa rua calçamentada. Uma rua silenciosa. Apenas o barulho de seus passos era escutado.

Parou em frente a um portão velho e enferrujado, iluminado por uma luz tênue, vinda de um poste do lado oposto.

Segurou as grades do portão e ficou a olhar para dentro daquele recinto. Havia pouca iluminação. O vento soprava muito forte naquela noite. Era noite de domingo.

O rapaz percebeu que o ferrolho estava destrancado. Abriu- o e o ranger do portão quebrou por alguns instantes o silêncio da hora.

Entrou e caminhou. Passou por algumas poucas plantas que inutilmente buscavam alegrar aquele ambiente sombrio. Naquele espaço, reinavam insistentemente o silêncio, a escuridão e o frio.

Levantou o olhar e avistou várias cruzes. As cruzes que coroavam as muitas sepulturas que ali havia.

Parou em frente a um túmulo majestoso, com flores naturais que o adornavam. E por dentro de uma janelinha protegida por uma vidraça transparente, a foto de uma bonita senhora. Aparentava menos de quarenta anos.

O rapaz tocou a vitrine. Depois, encostou-se na sepultura gelada, recoberta de lajedos verdes.

A missa de domingo já terminara há muito tempo. Lembrou-se de sua mãe nas missas de domingo. E aquela noite de domingo estava mais triste e mais fria.

O rapaz baixou a cabeça e chorou...

Nonato Costa
Enviado por Nonato Costa em 29/04/2008
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