Malu e o Pé de Tomate

Fiz alguns amigos no Recanto das Letras. Amigos virtuais, é fato, mas o comum amor pelos escritos criou laços literários poéticos em linhas muito bem traçadas.

Uma delas é a Malu. Pessoa sensível, poética, romântica, dona de uma sede enorme por saber.

Numa de nossas trocas de email, ela sugeriu escrevermos um texto juntas.

Sugeri um tema que eu já havia elocubrado, ao vislumbrar um prosaico pezinho de tomate brotando no meio da calçada em frente à casa em obras, vizinha à minha.

Da sugestão à publicação, o Pé de Tomate a quatro mãos levou quatro dias. Cada uma escrevia um trechinho - ela começou - e encaminhava à outra.

Finalmente, concluímos. Está lá, bonitinho, entre os textos dela (http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/954591).

Muito diferente do que eu havia imaginado ao ver a plantinha tentando desenvolver-se no meio do cimento. Se escrevesse sobre ele, escreveria sobre os eventos que o levaram a brotar ali. Um pássaro teria deixado cair a semente ou um dos peões da obra?

Escreveria ainda sobre o belo exemplo da plantinha, em sua busca pela sobrevivência, mesmo em ambiente tão inóspito, como muitas vezes nós mesmos fazemos, enfrentando cotidianos às vezes tão inóspitos quanto placas de concreto e solos compactados.

Talvez escrevesse sobre a triste realidade do tomateiro, fadado à morte pois, uma vez que a obra se encerre, provavelmente os donos da casa o arrancarão dali.

Ou seja, escreveria enfadonhas linhas, divagações parabólicas sobre nossa própria existência. De onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos?

Malu fez melhor! Criou todo um conjunto de habitantes da rua, deu-lhes mútuo conhecimento, rusgas e intimidades, que, eu penso, nunca terei com qualquer de meus vizinhos, e em instantes salvou o pé de tomate na hortinha do Seu Joaquim.

Enquanto isso, eu passo diariamente ao lado do tomateiro de crescimento tacanho pela aridez de seu habitat, e assisto indiferente ao lento e silencioso desenvolvimento da musa de toda essa história.