CHÁ DE CAPIM SANTO
São quase dez horas da manhã, e o delicioso odor daquele mesmo cházinho de sempre, por aqui já invade o ambiente.
É hora da parada matinal para o Happy Moment, e eu não pude deixar de me lembrar dele.
Aos finais de semana, ele adentrava a minha sala portando uma garrafa térmica trazida de casa, e às dez da manhã em ponto, sempre me oferecia um chá de Capim Santo que ele próprio preparava com paus de canela e adoçava com mel.
Confesso que era a melhor hora do meu dia.
Ele, que já quase atingia a sétima década de vida, sentava a minha frente, servia-me a xícara delicadamente e me contava as histórias da portaria da instituição, na qual trabalhava com dedicação e brilhantismo há anos!
-Comecei quando a senhora nascia!- me dizia ele com certo orgulho...
Muito ríamos juntos das cenas inusitadas que todo bom porteiro coleciona, e para tanto , bastava ser observador.
E ele era perfeito. Um colecionador de causos.
Não compunha aquele "cara-crachá" dos porteiros literalmente automáticos!
Certo dia, dei pela sua falta, e percebi que é principalmente na felicidade que de fato nao precebemos o tempo passar...
Acabara de contabiizar setenta anos, e aposentou-se na compulsória.
Por uns poucos instantes, perguntei-me o porquê de não ter se despedido de ninguém...
Rapidamente entendi.
É muito difícil se despedir de si mesmo.
É por isso que também procuro seguir sem olhar para trás, porque por lá sempre deixamos uma parte da gente surrupiada pelo tempo.
Sorvo meu chá de cidreira, e percebo que saudade também tem gosto de capim santo...