Só Deus sabe...


Só Deus sabe

 

 

Aquela chuvinha miúda insistia em cair. A casa estava cheia. Era domingo. Nair fazia aniversário. Suas irmãs Celina e Cecília, e os respectivos maridos e filhos tinham ido almoçar com ela. Era tardinha, família reunida, alguns amigos. Chega a comadre Maria José com o marido e os filhos.

 

O comprade estava muito bonito metido numa camisa de linho verde clara, os cabelos muito bem penteados para trás. Estava muito apressado, segurava as chaves do carro na mão, resmungando: - Tenho que ir logo, pois o pessoal na fabrica está me esperando. Falava para o comprade Paulo. Ao mesmo tempo em que mostrava o resultado do esforço de tanto trabalho, o carro novo comprado em uma concessionária.

 

Márcia a filha de Nair, pediu deixa-me dar uma voltinha no carro novo, é só uma voltinha.

A menina ligou  o carro, engatou a marcha e saiu, Manoel ia ao lado. Era só uma volta no quarteirão e depois iria para a fabrica. Os empregados o estavam esperando.

 

Foi uma correria. O carro subiu no do muro da vizinha de Nair. A menina ao volante saiu chorando no colo do pai, enquanto Manoel não sabia o que falar. preocupado com os empregados na fabrica, que o esperavam. O carro foi coberto por uma lona. Nair e todos da família sentiram naquele momento que a festa acabara.

 

Manoel foi para a fabrica. Ao descer do táxi, que teve que deixá-lo um pouco longe, pois a rua estava tomada por carros de bombeiros e muita gente olhando assustada. Não conseguia acreditar ao olhar a altura das chamas. Um calafrio percorreu-lhe a espinha. Foi se aproximando, no meio da multidão. Parou na entrada, ao ver o vizinho a gritar: - Seu Manoel, nós pensávamos que estivesse lá dentro. Nem teve tempo de perguntar ao vizinho o que se passava.

 

Na segunda-feira ao passar na casa de Nair para rebocar o carro para a oficina, simplesmente comentou: - Comadre, não lamento o carro, pois o seguro vai me dar outro. Poderia ter sido muito pior. Ontem, eu estava com pressa para ir a fabrica. Por favor, não comente com a Zezé. Ela não pode saber de nada. Eu ia para a fabrica para me encontrar com a Lina minha amante. Há tempos ela vinha me pressionando para eu deixar a Zezé, e ontem eu estava com muita pressa, pois ela ligou lá para casa, ameaçando se eu não fosse vê-la no domingo, ela iria contar tudo para a Zezé. Com o acidente, não pude ir até a fabrica, ela ficou com muita raiva e provocou o incêndio. Ela não vai mais voltar, pois sabe que não terei mais dinheiro para bancá-la.

 

Um ano se passou, um dia Nair conversava com Zezé e tentava ainda pedir desculpas pelo prejuízo que Márcia tinha causado a família. Zezé sacudiu a cabeça e falou docemente para a comadre: - Não tem importância, não. Com o dinheiro do seguro compramos outro carro, maior e mais bonito. Só Deus sabe o que poderia ter acontecido com meu Manoel, se chegasse antes naquela fabrica. Comadre, depois do fogo, Manoel deixou de dar tanto valor a fabrica e aos móveis, continua trabalhando muito, mas agora faz questão de dar mais atenção a mim e as meninas. Só Deus sabe.