O irmão dorminhoco

Moravam os três juntos num apto, a mãe e dois irmãos solteiros, no segundo andar de um edifício no centro da cidade.

Por serem independentes todos tinham cada um a sua chave__ claro__ como acontece em todas as famílias, em casos assim.

Um deles, o mais velho era pianista, tocava em casas noturnas. Sempre chegava a casa em altas madrugadas. Isso era quase todo dia. Naturalmente, tinha que trabalhar era essa a sua profissão.

Certo dia a mãe teve que viajar, e os dois ficaram tomando conta do apto.

Aproveitando a viagem materna, resolveram hospedar um amigo. E o pianista gentil com a visita, emprestou-lhe também a sua chave.

Nesse dia, ele tinha um compromisso sério e de muita responsabilidade. Ia tocar acompanhando um artista importante. Quando isso acontecia, o trabalho era redobrado. Passava quase o dia todo, entre ensaios e passagem de som. Realmente muito desgaste emocional e físico.

Chegava a hora do show__ já pronto pra sair, e desconfiado que o irmão poderia dormir e não mais acordar para abrir-lhe a porta __ Chamou o irmão e falou:

Neto, rapaz hoje vou tocar e como você sabe, só voltarei muito tarde, você tem certeza que vai acordar pra abrir a porta pra mim? .

Claro! Que vou. Respondeu o irmão. Nem vou dormir. Vou assistir ao filme ate alta madrugada, portanto nem se preocupe.

Tudo bem, respondeu intranqüilo o irmão pianista __ Ainda reforçou__ Você sabe que estou sem chave. E chegarei muito cansado.

Pode deixar...E fique tranqüilo. Respondeu ao irmão.

O irmão pianista saiu pra trabalhar.

O show como era de se esperar, foi extremamente cansativo. Tocar com artista muito exigente era sempre estressante.

Terminando o show__ hora de voltar pra casa__. Antes tinha que desmontar toda parafernália do seu instrumental. E alem disso, ainda teria que carregar um instrumento pesado... Um enorme teclado.

Colocou tudo no carro, e voltou pra casa.

Quando chegou, a rua era só silencio. A luz estava ligada, e no apto, ouvia-se o barulho da televisão __ grande foi a sua alegria ao perceber que o irmão havia cumprido o prometido.

Com um sorriso nos lábios e pronto pra agradecer ao irmão por aquele nobre gesto__ pois só ele sabia o quanto precisava descansar.__ Subiu as escadas levando o seu pesado instrumental. Nada mais do que dez lances de escadas.

Quando chegou ao ultimo degrau da escadaria que dava pro apto, viu que a porta encontrava-se aberta. Só a grade estava fechada no cadeado. E o irmão deitado no sofá com a televisão ligada. O sofá ficava em frente ao portão.

Pronto! Estava tudo resolvido... Pensava respirando fundo.

Bateu fraquinho na grade e chamou... NETO! Esperou o irmão. E nada, nem se mexeu.

Percebeu que dormia... E pensou. Eh! pelo menos daqui consigo acordá-lo

Graças a Deus deixou a porta aberta.

E bateu novamente mais forte no portão e chamou... NETOOOO! Deu um tempo... esperou e nada. Nem se mexeu... nenhum movimento de quem ia acordar.

Um pouco mais nervoso o irmão já batia com mais força no portão... NETOOOOOOOOOOOOOO! Esperou e nada .

O desespero foi batendo, o ódio também. O irmão ali perto. Quase ao seu alcance. Ele morto de cansado. A sua cama bem ali pertinho e ele não conseguia entrar em casa.

Batendo mais alto no portão, já acordando toda vizinhança . NETOOOOOOOOOOOOOOOO! E nada! Nenhum movimento sequer nenhuma esperança de quem iria acordar.

Os vizinhos já começavam a sair dos aptos. Outros olhavam pelas janelas, mas ninguém podia fazer nada para ajudá-lo.

E ele continuava na sua tentativa de acordar o irmão.

Dessa vez, desceu as escadarias pegou um monte de pedrinhas e iniciou uma seqüência de pedradas sobre o irmão.

Todas as pedrinhas que batiam, ele fazia uma cara feia de dor ...E nada de acordar.

A casa ficou cheia de pedras, o irmão cheio de marcas de pedradas parecia morto. Nem se mexeu. Nenhum sinal.

Um vizinho vendo o seu desespero.__ Cansado, abatido, com ódio e o dia amanhecendo__ Perguntou se não queria uma escada para que fosse colocada por fora, pra tentar alcançar um parapeito que dava para outra porta do apto que estava também aberta.

Claro! Vamos tentar... Animou-se um pouco o pianista.

Era uma escada enorme. Tiraram do apto do vizinho desceram as escadas, e andaram pra caramba, com a escada nas costas. A escada pesava tanto que os dois se esforçaram ate alcançar o local.

Colocaram a escada no lugar enquanto um segurava a escada pra não cair, o outro tentava escalar... Quando se ouvia uma voz lá encima... Êhhhhh! Rapaz o que diabo vocês estão fazendo ai?

Advinha!!!!