Traição Forçada
Luanda, 14 de Fevereiro de 1964, Francisco é um estudande brilhante, um jovem com um desenvolvimento intelectual extraordinário, fruto de uma educação esmerada recebida de seus Pais, alto-funcionário da administração colonial. É um jovem estudante e atleta, com uma óptima compleição física e excelente aparência, sem usar nem se aperceber do seu impacto, destingue-se pelo seu enorme charme e invulgar inteligência, é bem humorado, mas distante, não se esforçando por ser socialmente simpático.Tinha 18 anos e namorava com Ana, há 4 anos, uma jovem muito bonita, corpo esbelto, alegre, simpática, culta, educada e inteligente, filha das convencionalmente chamadas "boas famílias". Francisco sofreu nesse dia, um grande choque emocional, Ana tinha rompido a sua feliz relação com ele, pois tinha sido vítima de uma armadilha maquiavélica, arquitetada pela sua mãe Claudia, mulher pertencente à sociedade colonial da época; bonita e culta, que casada com um milionário frequentemente ausente por causa dos seus negócios, era uma mulher com um enorme déficit de afecto e amor e tinha-se apaixonado por Francisco, tudo fazendo para com ele manter uma relação de amante. Com delicadeza, paciência e desempenhando um papel de ingénuo, evitava todas as investidas de Claudia, que envolviam as mais embaraçosas situações, na ausência ou na presença do marido, mas evitando sempre fazê-lo quando na presença da filha. As investidas de Claudia, aumentavam de dia para dia, quer em sua própria casa, onde recebia Francisco, apenas em "baby-doll", na ausência da filha, quer em encontros, para os quais o atraí-a, invocando falar em nome da filha, e a seu pedido. Como a situação se agravava de dia para dia, Francisco deixa de desempenhar o seu papel de ingénuo desentendido (que Claudia, sabia não ser) e ameaça denunciar a situação angustiante que vivia, à sua amada Ana. Claudia, mulher influente, bonita e rica, sentiu-se despeitada e humilhada, não só pelo atrevimento da ameaça de Francisco, a uma mulher poderosa, mas sobretudo pelo facto de ter sido rejeitada, bem como não ter conseguido o seu desejo interiorizado de ter sido amante do namorado da sua filha, com quem desenvolvia uma relação competitiva, de forma subreptícia; Francisco, tinha por seu lado, uma grande vantagem, na aceitação familiar, pois além da sua namorada Ana, que tinha por ele uma paixão platónica, gozava da admiração do pai de Ana, o Eng. José Luis, que reconhecia a sua inteligência, lucidez e visão e também do empregado favorito da casa, um jovem Africano de nome Kondju, que tinha pelo Francisco uma enorme admiração e veneração, pois além de lhe pagar os estudos (clandestinamente), era também o seu explicador...
Claudia, tinha de se vingar da afronta e da ameaça de Francisco, embora não consumada, expulsando-o de sua casa. Pensou na melhor forma de lhe preparar uma armadilha convincente e confirmada por uma testemunha credível na família. Chamou o seu empregado Kondju e conta-lhe as suas intenções, Kondju nega-se a participar e depois chora convulsivamente pois não atraiçoaria o seu admirado menino e amigo Francisco.Claudia, diz-lhe então saber que ele é um simpatizante e desconfia até que é militante de um movimento emancipalista e que o denunciaria se ele não participasse, o que resultaria na sua prisão imediata; e diz mais, que presume que Francisco também é admirador da causa emancipalista, mas neste caso nada pode fazer, atendendo a ele ser branco e muito próximo do poder colonial, o que impossibilitaria a Pide/DGS (Polícia Política) de tomar qualquer inicia contra o Francisco. Claudia, decide então reunir a família e Francisco, num jantar familiar e no fim do jantar, serviu a sua vingança friamente, dizendo a Ana e a José Luis, que não suportaria mais o assédio de Francisco, que duraria a aproximadamente um ano e que desconfiava que ele era militante de um movimento emancipalista, apelando à confirmação de Kondju, perante a incredulidade de Francisco. Golpe fatal, a Francisco nem foi dada a possibilidade de se defender, foi imediatamente expulso de casa...
Para Ana, foi o fim de uma relação feliz, verdadeira e muito intensa, uma tragédia; para seu Pai, aceitaria com facilidade que sua mulher o traísse, mas não admitiria nunca que "alguém" brincasse com os sentimentos de sua única filha e perante a confirmação do empregado favorito da casa, não exitou em expulsar Francisco, ficou "cego", sem lhe permitir o direito ao contraditório, caso que para o Eng., se tornava mais grave com a suspeita de Francisco, pertencer a um movimento emancipalista. Resignado e completamente desiludido com tamanha injustiça, Francisco retirou-se; a confiança que presumia merecer tinha sido traída, terminou os estudos secundários e alistou-se no Exército, seria uma boa forma de esquecer o seu amor perdido. Embora, simpatizasse com causa dos movimentos emancipalistas, conhecia as dificuldades económicas e políticas do seu País e sabia que alguma "saída" se encontraria, seria uma questão de tempo. Durante o Serviço Militar e como operacional, empenhou-se em defender os seus soldados, evitando tanto quanto possível o inimigo ( que para ele lhe merecia o maior respeito e admiração). Francisco era um operacional destemido e temido pelo inimigo, ele conhecia muito bem a Região; tem uma visão fantástica e real sobre a guerra em Angola, desde o seu início, suas motivações, sua organização, sua logística, seus meios bélicos, suas dificuldades nas movimentações e sua filosofia. Ele sabe perfeitamente quem foi o maior "manipulador de consciências" do século passado (Frantz Fanon) e quais os métodos e técnicas usadas por esse pensador-filósofo-guerrilheiro-inspirador, grande amigo de Sartre.A história sobre a "Guerra de Angola", será contada num contexto não institucional, recriado pelos militares de Abril e por alguns jornalistas curiosos e ingénuos, em memória do jovem criado negro, chamado Kondju. Após esta fase da vida de Francisco, que nunca mais namorou com nenhuma jovem, mantendo-se fiel ao seu grande amor Ana, as suas vidas voltam-se a cruzar como irão ver, mais adiante...
Ana, recomeça uma nova relação um ano depois, mas toma conhecimento, mais tarde, por intermédio do seu criado Kondju, de toda a verdade sobre a sua relação com Francisco. Rompe com a mãe e apressa o seu casamento, no sentido de sair de casa. Seu Pai, o Eng, José Luis, divorcia-se e Ana vive um casamento de cerca de 5 anos em harmonia, mas sem amor. Cinco anos após o seu casamento, o seu marido morre num desastre de viacção. Ana fica viúva, sem filhos e apenas com seu querido Pai, regressam a Portugal, onde Ana se matrícula na Faculdade de Direito. Francisco, também regressa a Portugal, mas só depois da revolução de Abril, em 1976, encontra-se casualmente com Ana e reiniciam a relação, ambos sabem o que aconteceu, Francisco, soube muito mais tarde por meio de amigos comuns. Pouco tempo depois, casam-se e Ana fica grávida, ambos recebem a notícia como uma benção de Deus, o fruto do seu nunca interrompido amor. Nove meses depois, Ana é internada numa Maternidade, na véspera do nascimento do bébé, Francisco é surpreendido com a visita a sua mulher do criado africano Kondju, que também se refugiou em Portugal, pois ao contrário do que foi acusado, nunca pertenceu a nenhum movimento emancipalista. Abraçam-se e choram e depois de cerca de 5 minutos, nesta posição, Kondju, não só não conseguiu balbuciar qualquer palavra, como desapareceu repentinamente, como quem fugia da sua consciência atormentada. No dia seguinte Ana, o grande amor de Francisco, morre durante o parto, perante o desespero e enorme dor e infelicidade de Francisco. Nasce uma linda menina a quem Francisco dá o nome de Lua,(homenagem a Luanda) mas o sofrimento de Francisco não termina aqui, devido a uma jurisdição obsoleta, perde a custódia da filha a favor de sua sogra Claudia, sendo Francisco um exemplo de cidadão e tendo lutado por todos os meios, pelo direito á sua filha. Dois anos depois, morre o seu amigo (assim o considerava) Kondju e Francisco fez questão de se responsabilizar pelo funeral e dar-lhe a dignidade que daria a Ana ou a qualquer outro seu familiar
JBilro