Briga de vizinhas
Moravam na mesma rua embora com razoável distância. Não se davam de maneira alguma. Uma falava mal da outra e a recíproca era verdadeira.
Quase chegaram às vias de fato. Resolveram então que suas pendengas seriam resolvidas por seus maridos. Entretanto era uma desigualdade total. O marido de uma, Manoelão, era dono de ponto de jogo do bicho da localidade. Já havia cometido até assassinato. Nessa época, esse jogo ditava as cartas no RJ, não havia milícias, facções de traficantes, etc.
O marido da outra, um cidadão pacato, autodidata, muito inteligente, que diferença.
Mas o encontro estava marcado. O pacato deveria ir encontrar-se com Manoelão. Foi. Mas quando a oportunidade aparece a astúcia e a inteligência superam a brutalidade. Chegou cumprimentando, boa noite seu Manoelão. Embora muito contrariado, estou vindo à sua presença para pedir desculpas pela minha mulher, que coitada, tendo de cuidar
de cinco crianças, cuidar da casa, lavar, passar, cozinhar, fica muito nervosa e explode sem qualquer razão, sem motivo algum, ofende até as vizinhas.
- Como é seu nome? pergunta Manoelão.
- Antonio.
- Perplexo, acostumado a tapas e tiros, diz: seu Antonio, o sr. não tem de me pedir desculpas. Conheço a mulher que tenho em casa. Já me arrumou cada problema.
- Então seu Manoelão, vamos combinar o seguinte: chego em casa e digo que lhe dei uma lição de moral, mandei que fizesse com que sua mulher não se metesse mais com a minha e que eu não tinha medo de morrer nem de cadeia. O sr.faz a mesma coisa.
-Combinado, seu Antonio. Vamos tomar uma cerveja?
Quando se cruzavam, cada uma empinava o nariz, pensando naturalmente: mete-se comigo, mete-se!