AUXÍLIO-DOENÇA

– Eu juro, moço, pela minha santa mãe, que Deus a tenha no Reino da Glória, que eu não queria incomodar ninguém. Vou ser franco com o senhor: se fosse só por mim, eu nem tinha ido lá pedir auxílio nenhum, tinha nada. Mas sabe como é, chega um colega e diz: “Não pensa nos seus filhos?”. E outro completa: “É um direito que você tem, não vai pedir por quê? Tá rico?”

E cada vez mais gente azucrinando a cabeça da gente. Aí eu pensei: – É mesmo, se eu tenho direito a auxílio-doença, por que vou deixar pra lá? E foi aí que eu me estrepei, desculpe a expressão. Fui direto à Secretaria que me indicaram como responsável para resolver o meu problema. Lá chegando, entrei muito humilde, com cara de quem deve se humilhar porque está necessitado, quando me apareceu uma dona com cara de quem comeu e não gostou e perguntou: – E você, quer o quê? Acha que estou à sua disposição o dia todo? Fala logo!

– Bem, eu queria ver se é possível, por obséquio, atender o meu pedido...

– Deixa de frescura que eu não tenho o dia todo pra lhe escutar, desembucha logo.

– Sabe, dona, a senhora é tão simpática e humana, eu tenho certeza...

– Certeza a gente só tem da morte, fala logo!

– Eu tô procurando o meu auxílio-doença.

– Por que não falou logo? É na outra fila.

– Muito obrigado.

– O próximo!

Ah! Antes fosse aquela mulher grossa a me atender, porque a fila do lado estava tão grande que eu só pensei nas minhas varizes. E ela foi chamando... vinte e sete, vinte e oito... cento e quarenta e nove, e chegou a minha vez.

– O senhor trouxe o encaminhamento do médico?

– Graças ao bom Deus, está aqui.

– Então, dá um pulinho no DT, pega a ficha no CA, passa no DF, apanha a guia e vai ao banco receber. É simples.

(Como se todo mundo fosse obrigado a conhecer as siglas do serviço público.)

Aí comecei a acreditar naquele ditado do servidor público: se pode complicar, pra que facilitar?

Finalmente, depois de enfrentar ônibus lotado do subúrbio até a cidade, subir e descer, entrar em todos os departamentos da repartição pública, enfrentando filas e desaforos, chegou a hora de botar a mão na grana. Mas quando vi o valor do benefício, não dava nem para comprar os remédios de tratamento de varizes que estouraram nesse sobe-e-desce da peregrinação.

Saí arrasado, torcendo para encontrar quem me incentivou a pedir o desgraçado do auxílio-doença.