Com[paixão]

Plena madrugada e o telefone insiste em tocar, em atrapalhar o sono e deixar a perturbação ecoando no limite daquelas paredes.

-Alô!

-Oi!

Era a voz, aquela voz da qual ela necessitava tanto e esperava aflita por horas e horas. E era chegado o momento: devia segurar a taquicardia e o frio no estômago, devia controlar o choro e se fazer forte e invensível. Não era hora para lastimar-se, aflita, no passado. E se…? Não! Era tarde demais para pensar em boas alternativas, já havia esperado tempo demais por aquele momento…

- Estava esperando que você ligasse. Creio já estar suficientemente convencida de que nada entre nós vale à pena! - E o disse em um fôlego brusco.

- Mas e…

- Chega! Eu já sei -e as palavras dela doíam por antecipação- das tuas omissões. As súplicas que me fazia eram intensionalmente falsas. Me enraivece saber que as mágoas que você sempre me acusou provocar, foi no lado de outra pessoa que você afogou. A verdade é amarga, meu bem.Mas definitiva.

- Era isso que…

- Basta!

- Mas…

- Acabou, adeus!

[Tu-tu-tu-tu-tu]

E fez tanta força para dizer aquelas palavras que seu estado era de uma mortífera palidez. Acendeu um cigarro, segurou-o entre os dentes e aos prantos sentia cada emoção jogar-se com força daquele precipício negro que ela chamava de coração. A dor, as lágrimas, o desprezo? Tomavam parte de toda e qualquer fração de segundo que ousasse interromper a sua lucidez.Não poderia durar muito; serviu um pequeno copo de Wísq e bebeu em um golpe sádico o conteúdo deste, junto ao de um frasco de Apraz. Caiu lentamente ao chão, onde ficara agonizando até chegar à completa -e fatal- inconsciência.

Do outro lado da cidade, ele (indolor ao que acabara de ocorrer ao telefone) deliciava-se ao sexo do seu mais novo -e breve- amor eterno.

Lizzie Pohlmann
Enviado por Lizzie Pohlmann em 24/03/2008
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