De pequenas dúvidas:

O homem estava tão pequeno, com suas asas cortadas, e cores apagadas, que para mostrar forças, foi embora de casa.

A mulher ficou. Fingindo um pouco de amor, medindo o tempo perdido. Parou e provocou o relógio, pendurado, sozinho como ela, na parede branca.

Implorou para ele um momento e ele só fez: tic-tac.

Ela foi se deitar, com muito gosto, nos lençóis quase novos, nem assim tão velhos e gelados. Gelados de frescor, para os pés e as costas.

E bem cheia de ausência, esticou os braços e pernas, invadindo, com sabor, o lugar antes dele.

Tinha riso dentro dela, e choro também, por fora só se viam pequeninas rugas, de vida mesmo. Estava espaçosa e com rancor. E não pôs a camisola vermelha que ele gostava e nem tinha pudor.

Será que ele volta?

Decidiu por a camisola, só para sentir, e queimou pó de café pelo quarto, espantando fantasmas. Adoraria salpicar umas rosas, mas não tinha.

A chave girou na fechadura, a cama esquentou de supetão. A noite sofreu pequenas explosões.

Ele voltou.