Brumas

A escrever-te aos pés

(Com pano debaixo:) Dano

Um hai-kai burguês!

– Desculpa, tá? Eu não podia enganar você!

– Não, espe...

E assim foi o término de mais um namoro (segundo a sua já desiludida mãezinha:) promissor.

Para o leitor que desceu alguns degraus de (s)u(a) (i)m(ens)a torre de marfim, as falas, detrás para a frente, são as de um homem e de uma mulher. Ela corre aos prantos (já em busca de seu outro amor e triste pelo antigo), ele, com a mão estendida, é quase uma (tosca) imagem congelada de novelístico final de episódio. O vento sopra algumas folhas, a cena parece em preto em branco e alguém dá uns bons tapas na Tv.

Para aquele dado a (diria?) absurdas estatísticas, as falas, respectivamente, pertencem a um homem (religioso, na certa) e a uma mulher (descrente do que vê). Se ele também corre aos prantos? May be, maybe ( – Sabe-se lá o que se passa na cabeça desse povo!)...

Mas como não pretendo centrar-me n'outras ópticas e (alucinógenas) visões, assim foi! E ao tirar do gancho o telefone e desligar o celular, Zerrê Guti, grã-pianista francesa (e não menos sonhadora que os dois leitores que expus aqui), começa a (re)ler algumas páginas mui familiares.

– Mon Dieu! Mon Dieu, ma petite! – A pobre da mãe não se conforma: Já é o segundo empresário ( = fazendeiro) em menos de um ano! E Zerrê doida p(a)ra tirar o atraso! Desde os seus quinze anos...

– Não! Desde que se prestou a ler essas porcarias! – A mãe interrompe.

Enfim, 6:30 da manhã, o café (costumeiramente forte) está aguado, cantam os pássaros e a linda pianista, já pertinho de completar a sua trigésima terceira primavera, sorri (mas não pelos pássaros):

"Hoje, você poderá encontrar o amor da sua vida na esquina mais próxima."

De imediato, começa a experimentar as roupas de seu guarda-roupa quase todo ( – E olha que estava atrasadíssima para as aulas que dá às grossas mãos das filhas do prefeito da cidade!):

"Ah, mas a esquina mais próxima está cheia de bêbados de dois bares concorrentes ( = parentes que pedem favores e que, de certa forma, não permitiram que se mudassem ela e a mãe para a cidade grande)", lembrou-se.

"E se fosse a esquina mais próxima ao grotão? Ah, merde! Lá, não passa uma alma viva sequer e também ninguém pode tapear os astros", quase confabulou com seus botões.

Acabou desistindo (e correndo para a sua aula). Não se ateve, contudo, em seus quase vinte e cinco anos de leitura de horóscopo, que este oráculo de incrementadas páginas (para os não-fatalistas) baseia-se pura e simplesmente no acaso. E quantas vezes não deve ela de ter lido a mesmíssima coisa?

AH, e o motivo para esse último final de romance francês foi o seguinte:

"Você, que é de Escorpião, de 23/10 a 21/11, a sua vida íntima não vai bem no relacionamento com Libra, de 23/09 a 22/10 ( – Será que ela já namorou um astrólogo paranóico, também escorpiano, e que em toda oportunidade mete o cacete em Áries, Câncer, Leão...?). Você tem atitude ( – É quase uma Catarina – A Grande, da antiga Rússia!) e quem está a seu lado, por sua vez, tende muito à contemplação ( – Fica só olhando ...espero que não as estrelas!). As casas não se alinham ( – Um pernoite, então!)."

Como poderia esquecer? Poderia, afinal, haver, depois, gente bem capaz de descer uns mil degraus só para enfiar-me no ouvido ...uma lança! Comigo, não, violão!

a 21 de Fevereiro de 2008