Férias nas montanhas capixabas
Férias
Havia 08 anos que não gozávamos férias. Elas são necessárias para restaurar as energias despendidas ao longo do ano não só no trabalho, mas também nas diversas atividades sociais. É um momento exclusivo para se compartilhar com a esposa e com os filhos sem qualquer ingerência das responsabilidades advindas do contrato de trabalho e de outros compromissos sociais. Na verdade, anualmente, o direito constitucional às férias é exercido apenas naquele intervalo em que não se está obrigado a comparecer no local de trabalho, entretanto, não se configura em mudança de rotina. Nas férias, é importante alterar as rotinas da vida e substituí-las por ações e atitudes inéditas ou não rotineiras. Caso contrário, pode-se afirmar que o trabalhador sofre férias. A maioria absoluta dos trabalhadores brasileiros não tem direito de gozar suas férias plenamente, porque não podem modificar sua rotina. Além disso, o período de férias pode se tornar mais doloroso quando ousa fazer algo mais. Isso significa dizer que, financeiramente, será prejudicado por alguns meses, pois o orçamento familiar ficará desequilibrado. Tudo isso acontece porque o salário da maioria dos trabalhadores é pequeno e não lhe dá a condição de usufruir um direito universal de quem produz as riquezas da sociedade. Nesse aspecto, as férias perdem a conotação de benefício para adquirir o significado de penalidade. Muitas vezes, as férias penalizam os trabalhadores, infelizmente.
Pois bem, nesse ano, pude fazer diferente. Nas férias eu e minha família fomos descansar no Estado do Espírito Santo. Ao contrário de muitos outros, não fomos para o litoral. O nosso destino era a casa dos pais de minha esposa; eles moram na divisa de Minas com o estado capixaba, nas montanhas do caparaó. Lá estávamos nós, naquelas maravilhas de paisagens exuberantes e montanhas majestosas cheias de ar puro e isentas de substancias químicas produzidas pelas indústrias. Diante de tanta beleza natural e, quero fazer justiça, embora estivéssemos no Espírito Santo, as terras de Minas se confundem com as paisagens capixabas; curtimos demais. Eu observava as reações dos meus filhos e ficava feliz ao vê-los com os olhos brilhando diante de cada descoberta das imagens rústicas e inusitadas para eles.
Os meus sogros moram em um pequeno povoado, bem próximo ao pico da bandeira, cuja economia gira em torno da plantação de café. É uma comunidade tipicamente rural. No início, minha filha comentou com sarcasmo: “eu pensei que meus avós moravam, mas aqui, eles se escondem.” O lugarzinho é pequeno e fica ao pé das montanhas do caparaó. Naturalmente, ela fez comparação com Divinópolis e perguntou: “o que vou fazer nesse lugar durante quinze dias? Aqui não tem nada!!!”. Nós olhamos para ela e percebemos o ar de decepção estampado em seu rosto. Ela era muito pequena quando esteve lá pela última vez. Essa reação é a síndrome de cidade grande e sua agitação. Aquele lugar evoca a paz, sossego e tranqüilidade, coisas que, muitas vezes, nos grandes centros não se encontram. Por dois ou três dias a vimos pelos cantos da casa amuada e triste; não havia gostado do programa. Ela queria praia, mar, badalação e ali não tinha nada disso. De repente, as coisas começaram mudar; alguns jovens convidaram-na para uma festa e sem muito ânimo aceitou o convite. Foi o passaporte para mudança de humor. Dias antes, seus avós nos pediram que a deixássemos com eles no restante das férias escolares. Conversamos com ela a esse respeito e sua resposta foi um sonoro não. Com essa resposta, compramos antecipadamente as passagens de volta. Dias depois, fomos surpreendidos porque ela queria ficar com os avós. A tristeza virou alegria; ela conquistou muitos amigos de sua idade, passeou bastante; foi a diversas festas; começou olhar à sua volta e percebeu que o lugar era muito bonito. Agora, ela deseja retornar nas férias de julho para ficar mais tempo.
Nesse período, me afastei, inclusive, das noticias. Desliguei-me completamente de qualquer ocupação que pudesse atrapalhar as merecidas férias. Política nem pensar; trabalho de modo algum; o meu negócio era curtir com a família; andar a pé e sentir meus pés tocando o chão; recarregando minhas energias ligado à grande fonte chamada terra. Jogar conversa fora e passar horas e horas olhando para aquelas montanhas tão altas, que pareciam ligadas ao céu, era o meu passa-tempo predileto; bebia cerveja geladinha e jogava baralho. De fato, depois de oito anos sem férias, valeu à pena. Foram maravilhosas!
Silvanio Alves