O espelho

Em uma noite solitária, Ramos andava pelas ruas de São Paulo, sem saber direito para onde ir nem tão pouco o que fazer. Com uma dor incomensurável no peito, sua cabeça rodava, pensou em procurar um hospital, desistiu afinal, para que procurar um hospital, pata enfrentar uma fila enorme, e agüentar um médico que nem olha para a sua cara. Desanimado começou a pensar em sua vida, para que viver, a vida é apenas um grande circo, onde nós não passamos de palhaço, meus filhos todos casados nem se quer lembram da minha existência, minha esposa, mais uma que me fizera de palhaço, na primeira dificuldade se escafedeu com o primeiro que apareceu. E eu, olha pra mim, estou no meio da rua vagando pela madrugada, com essa maldita dor no peito... sozinho. Repentinamente olhou para o lado e viu um menino negro, deitado na calçada, magro, com rosto retorcido como o de quem dorme com fome.

Ramos mal olhou para a criança, sentiu nojo e pensou: “Vou para casa, se é para morrer, que morra em casa”.

Voltou para casa, a dor no peito continuava a insistir, e a auto-piedade continuou a aumentar. Lembrou de todos os momentos que julgou ter sofrido injustiça ou ingratidão, e ali amargando o passado adormeceu.

Naquela noite ele sonhou, sonhou que estava na rua dormindo debaixo de um viaduto coberto com um pedaço de papelão, sentia a temperatura do chão, as pedrinhas a ferir sua pele, seu estomago a roncar e se contorcer, ainda sonhando acordou assustado olhou para os braços e viu o quanto estavam finos, levantou e decidiu procurar comida, tal como um cão esfomeado revirou todas as latas de lixo que viu, encontrou alguns restos e comeu, comeu com se fosse a melhor comida já experimentada... voltou para o seu viaduto, cobriu-se com seu papelão, tentou dormir sem conseguir, olhou para a rua, e viu um homem de aproximadamente sessenta anos passando e olhando para ele com nojo e desdém. Lágrimas escorreram de seus olhos ao sentir-se rejeitado. O homem era ele mesmo.

A maior pobreza do ser humano está na consciência...

Não temos a consciência de que nós somos parte do mundo o outro também faz, sendo assim se viemos das mesmas raízes e fazemos parte do mesmo mundo, o outro também faz parte de nós...

Sabrina Ferreira
Enviado por Sabrina Ferreira em 15/03/2008
Reeditado em 20/02/2009
Código do texto: T902753
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