O Frango da discórdia
Este fato ocorreu no ano de 1985. Nesta ocasião eu estava na companhia de meu cunhado Ailton em uma lanchonete do amigo Augusto no centro de São José dos Campos.
Como fazíamos todo sábado à noite, conversávamos enquanto tomávamos nossa cerveja, esperando a hora de irmos ao baile em um famoso clube da cidade, o "Estrela D’Alva" (antiga instalação da Ericsson, hoje Shopping São José).
Mas vamos ao fato: A certa, ou incerta hora, adentrou no recinto um homem completamente “mamado” acompanhado de uma mulher (não menos mamada) pediu um frango assado. Desses frangos que ficam girando no famoso “Cinema de cachorro” e após não serem vendidos ficam expostos por mais algum tempo.
Ao serem questionados, disseram que iriam degustá-lo ali mesmo.
Muito bem, para a surpresa de todos, eles comeram as coxas do frango e em seguida disseram que não queriam mais, alegando que não estava do gosto deles.
O proprietário, dizendo que não ficaria com o prejuízo, tentou obrigá-los a pagar o penoso.
Foi então que, a pedido do nosso amigo, meu cunhado interveio na negociação. E eu até hoje me pergunto: Por quê?
O homem tornou-se violento e partiu para agressão física, levando uma enorme desvantagem. Primeiro pelo porte físico do Ailton e em segundo em função do estado avançado de “Lulês” do benedito cujo.
Resultado: O homem desequilibrou-se, caiu batendo com a cabeça na calçada ficando inconsciente e sua mulher desesperada.
Imediatamente solicitamos serviços de um táxi de um ponto próximo para levá-lo a Santa Casa. Para complicar a situação, o motorista não quis fazer a corrida alegando que seu carro poderia ficar manchado de sangue.
Após algumas ameaças de omissão de socorro ele cedeu, arrumando imediatamente jornais para forrar os bancos de seu veículo.
Por sorte ou azar, passava um camburão (estamos no ano de 1985) da PM pelo local e logo se encarregou de nos acompanhar até o hospital e em seguida à delegacia para o registro de um BO.
Foi a primeira (não única) vez que andei de camburão na minha vida (como a cabine estava lotada, fomos transportados na carroceria).
Em resumo: Após o atendimento do “devorador de coxas” do hospital e registro na delegacia, estávamos finalmente pronto para o baile, que a essa altura já corria solto.
Chegamos ao clube, por volta das 2:00 h da manhã e ficamos até o final como fazíamos de costume. No retorno resolvemos dar uma passadinha na lanchonete de nosso amigo (que naquela época ficava aberta noite toda), para comentarmos o ocorrido.
Foi então que o Ailton resolver perguntar pelo paradeiro do frango e para nossa surpresa Augusto respondeu:
- Está aqui. Eu o guardei para vocês. Entregando a ave (sem as devidas pernas, evidentemente) ao meu cunhado.
Não deu noutra. Juntou a fome com a vontade de comer. Regado de mais uma gelada, foi consumido ali mesmo, desta vez repartido com dois bêbados que estavam sentados em uma das mesas da lanchonete (que de certa forma já o estavam devorando com os olhos).
Ficou então batizado por nós desde então como o “Frango da discórdia”.
Acho até que é por isso que não sou adepto de frangos de granja.