Amor adolescente!?

Aqueles dias foram maravilhosos para João Alberto.

Era sua primeira namorada, iam à toda parte, ficavam juntos o tempo todo e apesar de suas poucas idades, João tinha 16 e ela 15, se amavam, se amavam muito.

João Alberto sonhava acordado, e nos seus sonhos, lá estava ela, sempre feliz ao teu lado.

Para João Albeto uma coisa parecia certa, ficariam juntos para sempre, para todo o sempre.

Na escola, eram conhecidos por casal 20, e adoravam, é verdade que casal 20 era uma denominação demasiadamente antiga, no entanto, não ligavam, amavam, aliás, seu namoro, era como nos velhos tempos.

João havia pedido a mãe dela para que pudessem namorar, o namoro era em casa, aos olhos do pai, que era muito rigoroso.

Se fossem tomar um sorvete, a irmã mais nova, ia junto, mas ele não ligava, o importante para João era estarem juntos.

A sua amada.

A sua amada imortal.

Um dia, chamou-a para um piquenique, à beira do rio Pirarucu, um rio que cortava os arredores da cidade.

E lá se foram.

Refrigerantes, lanches, salgadinhos, enfim, levaram tudo o que precisavam para passar um belo dia juntos, e, o que era melhor, a irmãzinha dela não fora, pela primeira vez, a não ser quando estavam no colégio, estavam a sós, inteiramente, sós.

Sozinhos.

Que dia! Pensava João.

Este dia vai ser maravilhoso, inesquecível.

Acharam uma pequena praia à beira do rio, e lá, sozinhos, começaram a se beijar, se abraçar, e, de repente, não mais que de repente, transaram.

A primeira vez a gente nunca esquece, principalmente, quando é com quem se ama, eles estavam felizes, muito felizes, e naquele ambiente romântico, transaram novamente.

No final da tarde, voltaram para casa, felizes, suas vidas mudariam, tinham selado seu amor da forma mais bela, e agora, seriam para sempre, um do outro.

Nada mais os separariam.

Tinham feito um pacto.

Um belo pacto.

Tinham se entregado de corpo e alma, de coração, eram agora um só ser, um só coração.

Com certeza, aquele foi o dia mais feliz da vida deles.

Ao acordar no dia seguinte, João Alberto olhou no relógio.

Uma da tarde.

“Meu Deus” pensou “dormi demais”.

Levantou-se, e rapidamente, trocou de roupas e correu em direção à rua.

Sua mãe, que estava na sala de estar, vendo João passar correndo, tentou, inutilmente chamar-lhe a atenção.

João correu, correu, queria ver o seu amor, que se certificar que tudo que passara no dia anterior não teria passado de um sonho, então, correu, correu cada vez mais rápido.

Ao chegar na casa dela, tudo estava fechado.

Chamou-a, chamou-a, mas não obteve respostas.

“É um pesadelo” pensou.

Chamou-a novamente, mas ninguém veio atendê-lo.

De repente, uma voz. “O que você quer menino?”

Ao olhar, João percebeu que era a vizinha da frente.

“Não tem ninguém em casa”. Perguntou.

“Eles se mudaram, essa manhã”.

“Para onde?”

“Para uma cidadezinha no interior do Piauí”.

“Mas, por quê?”. Disse angustiado.

“Não sei não”

“Mas... Mas... Deixa pra lá”.

Naquele momento, João Alberto, sentiu sua primeira dor de amor.

Era como se uma faca tivesse cortado seu coração.

Sentia dores no corpo todo.

Chorou. Como chorou.

Chegando em casa triste, cabisbaixo, sua mãe lhe pergunta o que tinha acontecido, mas ele nada respondeu, e foi para o quarto.

Minutos depois, sua mãe entrou, trazia consigo uma carta.

“Sua namoradinha veio aqui de manhã e deixou isso aqui para você”.

João mostrou-se um pouco animado.

“Ela não quis que eu o chamasse, disse que você entenderia”.

Entregou a carta e saiu.

Era uma carta de despedida.

A carta dizia que ela não teve coragem de contar-lhe sobre a mudança e lhe agradecia pelo belo dia que tiveram, dia que ela levaria até o fim de sua vida, terminando a carta, escreveu “Eu sei que vou te amar”.

Não havia endereço, nada.

João chorou, chorou muito.

Seu amor partira, partira para sempre, e, mesmo que quisesse nunca mais a veria, teria consigo, somente, a lembrança daquele maravilhoso dia, em que se entregaram um ao outro, e uma carta.

Dias passaram-se.

João ficou dias e dias depressivo, mas aos pouco foi voltando ao normal.

Voltou a jogar futebol, coisa que tinha parado na época do namoro, voltou a sair à noite com seus amigos.

Logo já estava namorando de novo.

E de novo.

E de novo.

Vez ou outra se lembrava de sua primeira namorada, com carinho, talvez com amor.

Os dias se passaram.

Os anos se passaram.

Nunca mais teve noticias dela, mas apesar de vários anos terem se passado ainda se lembrava dela, não sabia explicar a razão, pois, era um galanteador, namorou, namorou muito, e muitas vezes sequer lembrava das garotas que tinha “ficado”.

João Alberto se casou, teve filhos, dois, um menino, chamado Carlos Alberto, e uma menina, Carla Regina.

Desde que soube que seria pai de uma menina, havia escolhido o nome, sua mulher sempre lhe perguntava sobre o porquê que ele fazia tanta questão de que sua filha tivesse tal nome, ele sempre dizia que era por que gostava, e nada mais.

Então fez-se a vontade de João, após nascer a menina o nome de Carla Regina fora lhe dado.

Anos e mais anos se passaram, e João sempre se lembrava “dela”, é claro que nunca comentou com sua esposa, afinal, não sabia qual seria sua atitude, mas preocupava-se, pois, de repente, seus pensamentos se voltavam para aquela época, de uma hora para outra as lembranças começaram a povoar sua mente e quase todos os dias, pensava no seu primeiro amor, e a frase final daquela fatídica carta ficava em sua cabeça, o tempo todo.

“Eu sei que vou te amar”.

Um dia, havia chegado do trabalho e estava lendo o jornal, enquanto sua esposa preparava o jantar, então, alguém tocou a campainha do seu apartamento.

Foi atender.

Era um rapaz de aproximadamente vinte anos.

- Desculpe senhor por incomodá-lo há essa hora, mas é que eu tenho algo lhe dizer... É urgente.

- Pois, não – responde João.

- O nome do senhor é João Alberto?

- Sim! Por quê?

- O senhor morava no bairro do Guarantã, perto do rio Pirarucu.

- Sim! Mas por que ???

Os olhos do rapaz encheram-se de lágrimas.

- Muito prazer... Pai!

- Pai? Pai?

- Sou seu filho.

- Mas como...

A esposa de João Alberto vem até a sala e presencia toda a cena.

- Sou seu filho, com a Carla Regina...

Eles começam a chorar.

João Alberto esta emocionado.

- Desculpe, vir até aqui, assim, e... E dizer tudo isso. É que... – diz o rapaz – Ela te amava muito sabia.

Seu choro é mais forte. A emoção é muito grande.

João Alberto chora de emoção, mas esta perdido, não acredita no que esta ouvindo. “Pai, como assim, pai”- pensa.

- É papai, ela nunca deixou de te amar... Como ela te amava...

- Me amava... Como assim, me amava?

- Ela faleceu na semana passada... De câncer...

Chora desesperadamente.

- Desculpe vir aqui desse jeito, o senhor... O senhor... Não tem... Desculpe, mas eu tinha que vir aqui, por ela, por minha mãe... È o último desejo dela...Sinto muito...Eu sei que eu não deveria chegar assim, e falar desse jeito, mas é por minha mãe...Desculpe...Desculpe...

- Calma! Calma!

João Alberto tenta acalmar o rapaz.

- Está tudo bem! Ok? Não se preocupe.

- É que, antes de morrer ela pediu que eu lhe entregasse essa carta... Desculpe... Ela sempre, me falou muito bem do senhor, apesar de ter-lhe conhecido na adolescência.

Disse que o senhor foi seu único e verdadeiro amor.

A emoção tinha tomado conta de todos, inclusive da esposa de João Alberto, que presenciava tudo o que estava acontecendo, sem nada dizer.

João pegou a carta e ao abri-lá leu, “Por toda minha vida eu vou te amar”.

Marc Souz

Marc Souz
Enviado por Marc Souz em 25/02/2008
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