CUIDADO COM OS GOLPES DO CELULAR...

Não estou falando de mais um golpe que acontece com os outros, mas sim de um episódio que me abalou profundamente, porque aconteceu comigo e no momento da ligação tudo parecia real em razão das coincidências que norteavam aquele telefonema.

O golpista utilizou o serviço restrito de telefonia. Não sei por que razão o marginal sabia que minha filha ligava a cobrar no sistema “restrito”. A própria chamada é diferenciada, por isso foi fácil me enganar, já que a única pessoa que até hoje me ligou no sistema restrito era a minha filha de 13 anos de idade. Minha filha condicionou o seu telefone nesse serviço por mera curiosidade de criança e de nada adiantou que eu a orientasse para que não utilizasse esse sistema, até porque se trata de uma adolescente – naquela idade crítica - que pouco houve ou atende ao que dizem os pais.

Tudo aconteceu da seguinte forma: Estava eu completamente absorto no meu trabalho, manuseando o computador, quando recebo um telefonema no sistema restrito e como é natural imaginei que fosse minha filha. Essa certeza ficou mais acentuada quando soou os sinais de chamada “a cobrar” como ela sempre fazia. Mas ao invés de ouvir uma voz natural e comum me comunicando alguma coisa ou me pedindo algo e a ouvi chorando (com voz e choro idênticos), exclamando o seguinte em tom de choro e desespero: - Pai os bandidos me pegaram!!!. Estou presa num porta-malas de um carro. - Eles tão dizendo que fui seqüestrada!!!.

Nesse instante instalou-se em mim apenas o desespero, pois tentava dizer alguma coisa para minha filha, mas logo a comunicação foi interrompida por um sujeito que falava de forma áspera e com timbre de marginal através de uma linguagem própria dos presídios e informava o seguinte: - A tua filha tá em nossas mãos. - Isto é um seqüestro. - A vida de sua filha depende de você. - Se fizer tudo o que eu mandar você terá sua filha de volta, caso contrário, ela será morta...

Respondi que tivessem calma que eu iria cooperar e logo eles informaram que eu teria de levar R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para eles, no que respondi que não dispunha de tanto dinheiro, pois sou funcionário público e ganho muito menos que esse valor. O marginal falava muito de uma forma ameaçadora e tentando me manter sobre pressão dizendo que eu ia pagar caro se não desse o dinheiro. Do outro lado da linha eu ouvia uma espécie de choro como se a minha filha estivesse sob ameaça de alguma arma. Eu só conseguia falar para ele se acalmar que eu ia providenciar o dinheiro que tinha disponível.

Nisso todos os colegas da Seção já tinham se aproximado de mim e um deles, que conseguia manter a calma, dizia baixinho que era um golpe, mas eu na pressão psicológica e acuado pela situação (que achava real), só pedia calma aos pseudos seqüestradores. Um dos colegas da Seção pedia o número de celular de minha filha e eu no desespero não lembrava, até porque ao mesmo tempo tinha de distrair o marginal que estava no telefone. O elemento sentiu que tinham pessoas a meu lado e exigiu que eu me dirigisse para um lugar longe de outras pessoas, ameaçando que ia matar a minha filha. Atendi e tentei me retirar para o corredor, quando os amigos me seguiram e insistiam em pedir o telefone de minha filha que eu, desesperadamente, não lembrava. Fui conversando com o bandido e inclusive negociando com ele os valores que eu podia dispor. Durante o decorrer conversa com o marginal, talvez iluminado pela luz Divina, lembrei-me do meu telefone residencial e consegui um pequeno intervalo na conversa, fornecendo o número, foi quando o colega ligou para minha casa e constatou que minha filha lá estava sã e salva. Por alguns instantes não acreditei no colega, pois para mim minha filha estava junto com aquele marginal. Mas aos poucos fui me recompondo e acabou o pesadelo.

Tive a pior sensação de toda a minha vida. Nem mesmo na morte de minha mãe eu fiquei tão angustiado. Foi como se tivesse saído de um pesadelo ao acordar.

Depois de tudo serenado e ter me acalmado, o bandido ainda continuou ligando insistentemente no meu celular, certamente por ter se convencido do meu desespero.

Agora vem a reflexão. Não acredito que os bandidos tivessem ligado a esmo, ou de uma forma aleatória, pois as coincidências foram muitas, primeiro pela voz, pois um pai jamais se engana sobre a voz de um filho ou de uma filha. A voz de minha filha é inconfundível, principalmente quando ela chora e fica nervosa. Coincide também a ligação a cobrar e pelo sistema restrito. Meus colegas afirmaram que foi meu nervosismo que me fez acolher aquela voz que se fosse de minha filha. Eu não penso assim. Tenho a sensação que os bandidos monitoram esse sistema restrito de telefone e por isso sabiam que minha filha ligava por esse sistema e tendo acesso ao sistema poderiam monitorá-lo no sentido de copiar a voz e editar a voz simulando o choro e o desespero.

Estou fazendo esse depoimento para que outros pais estejam preparados caso isso venha ocorrer. Quanto tudo está ocorrendo é difícil ter serenidade e agir com racionalidade. Eu tive a sorte de estar entre amigos que agiram racionalmente. No entanto, quem estiver sozinho é prudente dizer que a ligação está ruim que não está ouvindo direito e pedir para pessoa ligar outra vez, enquanto isso você pega o mesmo telefone e tenta contato com o filho ou a com filha, até porque nesse momento o telefone estará ocupado.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 22/02/2008
Reeditado em 22/02/2008
Código do texto: T870699