O Canalha
O CANALHA
Oswaldo era um canalha de carteirinha. Fazia questão de apregoar a todos o que realmente era. Não respeitava regras, leis, nada. Se houvesse um clube dos canalhas, ele certamente seria o presidente de honra.
Nunca trabalhara na vida. Vivia às custas das mulheres eventuais que conseguia conquistar, mas, principalmente de duas. Elzinha, que o vestia da cabeça aos pés, mulher de 50 anos, esposa de um famoso industrial. E Joana, uma bela morena de 19 anos, a quem deflorou quando era uma menina de apenas 12. Joana trabalhava numa loja de roupas femininas e, o dinheiro que ganhava, passava mais da metade ao seu amado para que este suprisse as suas necessidades. De vez em quando, era espancada por não ter mais dinheiro a dar ao gigolô. Aliás, essa parte era a que ela mais gostava. Joana adorava fazer amor depois de apanhar. Era seu fetiche. Oswaldo não se fazia de rogado. Sentava o braço para valer. Joana vibrava.
Uma não sabia da existência da outra. O malandro morava na casa do irmão caçula, Pedrinho, uma figura de físico frágil e bastante dependente de apoio dos familiares. Muito diferente do irmão Oswaldo, que era do tipo atlético, praticante de lutas marciais, independente e que não dava satisfação da sua vida a ninguém. Rubi fora um achado na vida do caçula. Era mãe, esposa, amiga, irmã e companheira. Não era uma mulher. Era joia preciosa. Rubi era lindíssima e, exatamente por isso, mexia muito com a libido do canalha, que, no fundo, desejava ardentemente a cunhada.
Oswaldo realmente não tinha o menor escrúpulo. Certo dia, ao chegar em casa, encontrou Rubi na cozinha, vestida com um short bem curtinho que deixava à mostra seu belo par de coxas e com uma miniblusa entreaberta, por onde transparecia seus seios volumosos e bem feitos. Oswaldo não resistiu. Tacou um beliscão nas pernas da cunhada. Esta, surpresa com a atitude do sujeito, soltou um gemido de dor e verberou:
- Canalha!
- Sou sim, e daí? Sabe qual é o seu problema, minha filha? Você precisa de um homem de verdade, assim, igual a mim. Meu irmão não sabe aproveitar todo o seu corpo. Não sabe desfrutar o que há de mais belo em ti. Aposto que existem partes aí que ele nem toca. Se você fosse minha, iria conhecer o amor verdadeiro. O amor de um homem maduro e experiente.
Aconteceu que Pedrinho chegou bem na hora do beliscão. Dessa forma, tomou conhecimento do que estava acontecendo. Furioso, partiu para cima do pulha. Este, muito mais forte e praticante de lutas marciais, não teve a menor dificuldade em dominar o irmão, que apanhou feito um boi ladrão. Mas, o pior ainda estava por vir. Não satisfeito em massacrar o pobre diabo, Oswaldo resolveu humilhá-lo. Obrigou Pedrinho a se ajoelhar e implorar que sua esposa suplicasse ao cunhado por um beijo na boca. Pedrinho gemeu:
- Na boca, não! Na boca, não!
- Na boca, sim! Ou tu queres apanhar novamente, seu. mariquinhas?
Sem alternativa, Pedrinho, olhando para Rubi que a tudo assistia, implorou:
- Filha, faça o que ele pede, pelo amor de Deus! Antes que ele me mate de pancada. Faz isso por mim, faz?
Rubi, aparentando indiferença, aproximou-se do crápula oferecendo a sua boca carnuda e sensual para que se consumasse o beijo pecaminoso. Satisfeito e feliz, Oswaldo sempre rindo, sentenciou:
- Olha ai, maninho, gostei muito do beijo que a sua mulher me deu e sei que ela gostou também. Sendo assim, doravante vamos dormir os três na mesma cama, pois estou cansado de dormir no sofá. Algum problema?
- Nenhum, respondeu entre lágrimas o acovardado irmão. Oswaldo, sempre rindo, avisou ao assustado casal que iria sair e que, ao voltar, queria a porta do quarto aberta para que ele pudesse estrear a cama.
Quando ficaram a sós, Rubi assim falou:
- Não vou admitir que um estranho divida a cama. A nossa cama!
- Ta maluca, mulher? Queres me ver espancado novamente, queres?
- Afinal, que espécie de homem és tu? E se ele me tocar? O que tu vais fazer?
- Não sei, mulher, não sei.
- Como não sabes? Afinal, tu és um homem ou um rato?
- Sossega o periquito. Neste momento eu sou um rato. Uma rato vivo, viu? Vivo e são.
Estavam nesse bate-boca quando Oswaldo regressou com cara de poucos amigos. Elzinha, a mulher do industrial, aquela que sustentava suas vaidades, num rasgo de dignidade, rompera com ele. E, pelo visto, era definitivo. Cansara de apanhar e de sustentar um malandro que só queria o seu dinheiro.
Foi só botar o pé em casa e Oswaldo teve aquilo que chamou de uma brilhante idéia. Rubi, a sua cunhada, iria substituir Elzinha. Afinal, Rubi possuía um belo emprego. Era secretária de um alto, alto não, altíssimo executivo. Pelos cálculos de Oswaldo, ela deveria ganhar muito bem, e depois não era de se jogar fora. Tinha o marido, mas seu irmão era um mosca morta e nada poderia fazer. Viveriam a três, assim como Dona Flor e seus dois maridos, aliás, o único livro que lera em toda a sua vida.
Assim, logo que chegou, explicou ao atônito casal o que planejava, para horror da cunhada. Pedrinho ainda tentou reagir àquela malfadada idéia, mas foi logo presenteado com um tabefe na cara, daqueles que possuem som. Nada pior para um homem que levar uma sonora bofetada. Dói muito mais na alma do que no corpo. O som da bofetada permanece nos ouvidos pelo resto da vida. Humilhado, só restou concordar com o irmão, e aceitou resignado aquela triste situação.
Naquela noite, Oswaldo proibiu televisão, rádio ou qualquer tipo de som na casa, impondo uma espécie de toque de recolher. Logo, logo estavam os três na cama. Por exigência do pulha, Rubi deveria dormir entre os dois. Oswaldo começou timidamente a bolinar a cunhada. Primeiramente, suas mãos começaram a acarinhar os belos seios. Sentiu um ligeiro tremor no corpo da mulher. Sorriu satisfeito. Aquela cidadela começava a ruir. Depois, seus dedos deslizaram suavemente para as partes mais baixas. Rubi soltou um gemido, que a ele pareceu de satisfação. Pedrinho, a tudo percebeu, mas, impotente, fingiu que dormia. Naquela noite, Rubi e Oswaldo tiveram uma noite de amor. Rubi demonstrava sentir um prazer que nunca antes havia sentido com o seu marido. Este continuava fingindo que dormia enquanto, de olhos fechados, as lágrimas lhe corriam pelo rosto como se fossem um rio caudaloso que transbordava e devastava as margens.
Oswaldo ria de contentamento. Rubi sorria e Pedrinho chorava como um bezerro desmamado. Depois do amor, Oswaldo virou-se para o lado e dormiu o sono dos justos. Rubi levantou-se, foi até ao armário a procura de alguma coisa. Depois de uma breve busca, finalmente encontrou o que procurara. De posse do objeto, aproximou-se da cama e chamou o cunhado pelo nome. Este, ao abrir os olhos, tomou um bruto susto. Rubi empunhava um revólver 38 nas mãos. A princípio, Oswaldo pensou tratar-se de uma brincadeira. E por pensar tratar-se de uma brincadeira, começou a dizer que Rubi havia gostado das suas carícias, de ter feito sexo com ele e que da próxima vez iria levá-la ao clímax total. Rubi dispensou-lhe um olhar de desprezo e, com um sorriso de satisfação nos lábios, apertou o gatilho uma, duas, três vezes. A primeira bala atingiu o olho esquerdo. A segunda, o pescoço e a terceira, a testa, mais exatamente entre os olhos.
O sorriso cínico no canto da boca deu lugar ao medo. Seus olhos esbugalhados . Seus olhos esbugalhados demonstraram o horror que todo ser humano tem da morte Oswaldo teve morte instantânea. O sangue do canalha manchou o lençol branco estendido no colchão.
Pedrinho, ao ver o irmão estendido ali na cama, sem vida, foi invadido por uma imensa alegria. Seu coração e a sua alma estavam em festa. Calmamente, colocou o corpo do irmão sentado na cama e começou a esbofeteá-lo. Cada bofetada era seguida de uma frase:
- Toma, seu mariquinhas! Reaja, seu covarde! Seja homem, seu miserável!
Rubi não fez por menos. Depois de bater no corpo inerte do cunhado até cansar, não satisfeita, ainda cuspiu no seu rosto, com um prazer mórbido. Rubi e Pedrinho riam como se fossem loucos.
De repente, Pedrinho e Rubi tiveram, quase ao mesmo tempo, uma idéia. Despiram o cadáver e transaram naquela cama, ao lado do defunto nu.