Antônio e Damiana 2008

Mariano P.Sousa

Sim, eram eles: Antônio e Damiana; amavam o romper da aurora, pois nasceram num pé-de-serra, no interior da Paraíba e banhavam-se no orvalho todas as manhãs, a caminho da plantação de abacaxi, de onde tiravam o sustento.

Ah! Mais tem um negócio. Eles precisavam deixar aquele nascer e por do sol que acompanhava-os no dia-a-dia.

O irmão mais velho: Givaldo, que partiu logo cedo à procura de novos horizontes, No Ri de janeiro ou em San Palo, era um mininim quando se foi. Agora pai e mãe estão velhos e doentes, precisando de ajuda.

Tia Lia, óia os veios e nois vamos furar mundo à procura de Givaldo. Entonce puseram seus poucos pertences, em um saco e um imborná e foram pedindo: carona aqui, comida ali e um copo d’ água acolá, pois não tinham um só tostão.

Dormiam na beira da BR 101, e mais uma vez apreciavam o sol nascer, só que agora ele trazia uma saudade, uma tristeza, um vazio... Mas pé na tábua; vamos encontrar Givaldo, para nos ajudar e ajudar também: mainha e paim.

A essas alturas, já estão em Minas gerais, com muitas perguntas, favores, poucas vestes e alimentos, eles vão furando o Brasil de nordeste a sudeste. Mais uns nãos, porém com muita persistência conseguiram mais uma carona que os levou até a cidade maravilhosa. E agora?

Na Avenida Brasil com apenas um pedaço de papel amassado, onde havia um endereço, era em Botafogo na rua da passagem num determinado número. Mas como chegar lá?

Passa um ônibus eles fazem sinal, não para, somos pequeno! Então vem o 472 escrito, Campo Grande - Copacabana (via Botafogo). Aí, aproveitando que outras pessoas vão panhar o ônibus, eles pedem mais uma carona.

Dentro do ônibus eles estão desconfiados, assustados, o mais velho de 11 anos já sabia ler alguma coisa e viu escrito numa placa, Rua da passagem: desceram no próximo ponto como cachorro quando cai de mudança, não sabiam pra qual lado iam, vem um homem e Antônio pergunta: Moço, nói rem de munto longe pricurar um irmão da gente ele chama Givaldo, o sinhô num sabe onde ele mora?

Não meu filho; não sei e to com pressa poix ainda vou panhar doix ônibux, pra ir até o trampo, aí!

Um falou pro outro tu visse Cuma ele fala?!

Porém seguindo pela calçada eles chegaram ao dito número no qual provavelmente o irmão deles morava.

Havia uma senhora na porta e os meninos perguntaram: dona o Givaldo mora aqui? Não meninos, ele morava mais mês passado ele estava indo depositar um dinheiro, que era sua economia para visitar seus pais no final do ano, houve um assalto no banco e seu irmão, foi mais uma vítima de bala perdida.

A senhora foi fechando o portão e os meninos saíram sem rumo. Se você encontrá-los por ai dê uma chance pois muitos Antônios e Damianas só precisam disso.

MarianoPSousa
Enviado por MarianoPSousa em 16/02/2008
Código do texto: T862693
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