Colcha de lembranças..Mordaça
Colcha de lembranças - Mordaça
Estivera procurando remendos de sua história. A mente brigava, dividia-se, entre o ilusório e o real. Falava aos solavancos, descontando talvez, mais de meio século de silêncios. Era mansa, numa sabedoria de ninguém, e que ninguém alcançaria, ou mesmo, entenderia. Deu para procurar-se, urgia encontrar e alinhar fatos concretos e sair de vez daquela confusão em que sabia sim, estava sua mente nublada e alterada. Algo havia acontecido, e fora esse algo o responsável.
Passou a perguntar, perguntar demais, o que havia acontecido? A filha, moça prática, dura, e agora dona daquela mãe cansativa a causar desconfortos e transtornos, aquela mãe feia, envelhecida, irritante. Algo teria que ser feito. Fácil fazer. E num momento em que todos presenciavam mais uma cena daquele ser mãe em suas buscas, veio o veredito, todos coniventes, era loucura, estava aquele fiapo de gente, aquela mãe, estava louca. Rápida e eficiente foi a solução. Acordou com dores, quis se movimentar, quis falar. Percebeu estar num imenso quarto, onde muitas eram as deitadas e quietas mulheres, percebeu que todas estavam amarradas, sedadas. Assim como ela. Não, não podia falar, a voz não saia. Porém todas as palavras foram ditas em cada lágrima, e foram elas, as lágrimas silenciosas que trouxeram-na de volta..toda a sua história..suas buscas..agora sim..ela se lembrara! Morreu.. e nos olhos abertos e serenos..as lágrimas! Fim!!!
Dorothy Santos Carvalho
Goiânia, 11 de fevereiro de 2.008