Carol prestava atenção na aula de Português e vez ou outra olhava para a janela de um prédio que ficava em frente a janela lateral da sala em que estudava. Esperava ansiosa a hora que Dirceu chegasse e pudessem ficar flertando através dessa janela. Os dois se olhavam, sorriam um para o outro e Carol ficava preocupada pois os colegas já estavam desconfiados desse encontro janelesco. Dirceu era um garoto moreno, muito bonito e parecia um galã, desses que a gente aprecia no cinema. Carol, ao contrário, se sentia sem graça, era comum, muito clara e sardenta,que no fundo tinha medo dessa relação pois sua insegurança afastava dela todos que insistiam em se aproximar. Com Dirceu ela sonhava, mas ao mesmo tempo pensava "imagine se um menino lindo desse vai querer alguma coisa comigo..." O tempo foi passando, nessa época ela estudava num horário atípico, a aula começava às 16:40h e terminava às 8:00h. Portanto quando terminava já estava escuro. Um belo dia ao sair encontrou Dirceu a sua espera, Carol ficou toda encabulada e tentou ir embora, mas a voz de Dirceu a chamava e ela teve que enfrentá-lo morrendo de medo e de vergonha. Depois desse dia, todas as noites estava ele ali na portão do colégio, parado, esperando-a para levá-la ao ponto do ônibus que a levaria para sua casa. Carol vivia um sonho e não queria despertar, mas se sentia mal e não sabia muito bem lidar com tal situação. Dirceu pelo contrário tentava demonstrar todo o afeto que sentia por ela e a mesma não o levava a sério pois não acreditava em sua sinceridade já que se achava pequena diante dele.. Na escola todos já sabiam e os cochichos eram gritantes quando ela chegava. Na turma havia uma menina linda, chamada Nina, que sentava ao seu lado. Nina também havia reparado em Dirceu que não saia da janela enquanto o sinal da saída não tocasse. Nina, então para fazer ciúmes em Carol, olhava para Dirceu, sorria, mandava beijos e descaradamente brincava com Carol. Um belo dia Dirceu quis levar Carol em casa e esta então se assustou porque não poderia deixar ele saber onde morava, sua casa era muito velha, sua família era muito pobre e isto, na sua cabeça seria o fim. Tentou por todos os meios tirar da cabeça dele essa idéia mas Dirceu estava mesmo disposto a conhecer o seu mundo, afinal ele gostava verdadeiramente de Carol. Um belo dia Carol resolveu marcar com Dirceu em frente a sua fictícia casa. Havia onde morava, uma casa que ficava em cima de uma padaria que ela achava linda e tomou para ela aquele endereço. Assim ela fez e marcaram o encontro. No dia e hora marcados lá estava ela esperando por ele e ali ficaram conversando até que ela tivesse que entrar dando a desculpa que seu pai não poderia saber que ele estava ali. Carol simulava a subida pela escada e Dirceu acenava enquanto ia caminhando para pegar o ônibus. Assim que ele pegava a condução, Carol ia correndo para sua casa verdadeira. Isto tudo era combinado com sua colega Aline, cujo pai era dono da padaria. Eles tiveram muitos encontros, rápidos, furtivos e a maior intimidade entre eles foram beijos apressados no rosto e sempre ficavam de mãos dadas conversando sem ver o tempo passar. Um belo dia Nina descobriu que Carol mentia para Dirceu e resolveu desmascará-la contando toda a verdade a ele. Ao encontrar Carol Dirceu quis levá-la até sua casa sem contara nada do que Nina havia falado, e esta desculpou-se dizendo ser impossível já que seu pai estava desconfiado e ele poderia aparecer a qualquer minuto. Dirceu como sempre foi carinhoso com ela, entendendo a situação e foi embora. Os dias continuaram iguais e os dois pareciam mesmo apaixonados. Num domingo sem avisar, Dirceu vai à casa de Carol mas não a encontra pois a ela, claro, não estava lá. Aline que o qtendeu, disse-lhe toda a verdade contando para Dirceu que Carol morava em outra rua, mas que ela não podia revelar o endereço pois era amiga de Carol. Dirceu saiu cabisbaixo e foi embora pensativo. Aline procurou Carol e contou sobre a visita de Dirceu e esta ficou apavorada. "Como vou falar com ele, estou tão envergonhada..." - pensava ela. Naquela noite, ela quase não dormiu, o dia demorou a passar e quando chegou à escola e olhou para a janela do prédio, Dirceu não estava lá. Durante a aula ela esperou que ele aparecesse, seu coração batia descompassadamente mas ele não apareceu. Ao bater o sinal, arrumou seu material e desceu as escada correndo e quando chegou ao grande portão da escola, lá estava o Dirceu esperando por ela. Eles se olharam e ele perguntou: - Por quê? Ela respondeu: -" O meu mundo não é o seu, me desculpe..." Muitas vezes ele tentou falar com ela enviando recados por colegas, soube-se até que estava muito triste, mas naquela janela ele nunca mais apareceu... Hoje Carol lembra de Dirceu com uma doce saudade e com muita tristeza. Por vergonha e preconceito, ela perdeu o seu primeiro amor.