O SONHO DE ZULMIRA
Zulmira jurou a si mesma vencer na vida a qualquer preço.
– Chega de miséria e de tédio! Que vida vazia, meu Deus... Mas um dia todo mundo vai falar de mim, isso é que vai, ou não me chamo Zulmira, quer dizer, Cíntia.
Era assim que ela queria ser conhecida. Porque, dentre as coisas que ela mais detestava, a primeira era seu nome. Nunca uma mulher fina, charmosa e de berço se chamou Zulmira. E um dia ela chegaria lá.
Bem, como nem tudo são flores, e querer não é poder, a pobre Zulmira vinha penando um bocado para alcançar a sua meta, que parecia cada vez mais difícil. Mas sempre que pensava nas coisas que poderia ter se fosse rica e famosa ela se enchia de esperança, e se jogava na luta; afinal, ela tinha consciência de seus predicados.
– Ora, não sou tão feia assim, e um pouco de maquiagem faz milagre.
Porém, todas as suas tentativas até então falharam.
A primeira foi quando decidiu trabalhar como secretária-datilógrafa numa firma de construção civil. Lá trabalhavam muitos homens, talvez fosse a sua chance. E quando Zulmira foi apresentada a seu chefe, seus olhos brilharam: era um tipo ainda jovem e bonito. Talvez se ela fizesse um charminho desse certo.
E Zulmira não jogou para perder, mas perdeu. No teste de sentar no colo, ela foi aprovada, e, por sinal, se saiu muito bem; mas na hora do batente a pobrezinha não deu pra saída.
Também, que chefe mais exigente... Afinal, o que ele quer? Uma secretária perfeita? E o negócio foi partir para outra. E depois de tantas andanças frustradas, decidiu que o melhor mesmo seria atacar de velho rico.
E não fez por menos; o escolhido foi um desses velhos que não podiam ver menina, e o mais importante: tinha muito dinheiro e gostava de agradecer as gentilezas de suas eleitas. – É agora ou nunca! – pensou Zulmira.
Mas a pobrezinha nem suspeitou que onde tem açúcar tem formiga. E a outra que tinha mais estabilidade não quis entregar a mina, e resolveu tirar nossa heroína de campo.
Bem, Zulmira não conseguiu ficar rica e famosa, mas um de seus objetivos ela alcançou: “Todo mundo vai ouvir falar de mim”, porque ela foi manchete de todas as crônicas policiais daquele dia.
“Luta e sangue por causa de velho rico”
Zulmira de Tal, vulgo Cíntia, solteira, domiciliada na Rua Tal...