O MAR

O mar ...

Há evidências cientificas demonstrando que o mar exerce uma influência emocional significativa na vida das pessoas.

Afinal, se somos compostos de noventa por cento de agua no nosso organismo, quanto mais perto do mar melhor.

E se for o mar de Copacabana, é muito melhor, pois se já é conhecido pela sua beleza e por ser inspirador de grandes filmes e histórias de amor, é agora o cenário no qual se desenrrola mais essa história romântica.

Não é propriamente uma história moderna mas pela emoção que encerra podemos considerá-la uma história eterna.

Nesse conto vamos mostrar a trajetória de uma familia paraibana que se mudara recentemente para o Rio de Janeiro, para São Cristovão, um antigo bairro imperial.

A dona da casa, Rosa, conhecida como Rosinha, nordestina autêntica, pequenina mas espevitada, sempre insistia com o marido, Braguinha,

que a ouvia, meio impaciente;

¨Quero morar em Copacabana ... Lá tem aquele marzão bonito, arre-

tado ! ¨

E, suspirando, completava;

¨Eu não vim para o Rio de Janeiro para morar nesse pé de morro ¨

De fato o lugar não era dos melhores, não chegava a ser um morro mas era a subida do Tuití.

E embora não existisse a violência dos dias atuais, já era o bastante para assustar uma familia emigrante nordestina.

¨Calma, Rosinha, vamos esperar um pouco !

Lá tudo é caro demais ...

Sabe quanto custa um ingresso de cinema em Copacabana ?

Cem reis ... ¨

Rosinha, replicava,

¨Eu nunca vou ao cinema mesmo !

Nem em Cajazeiras eu ia !

Os filhos, Zelia, que era religiosa, Jackson, Marden, Julia e João ouviam as discurssões, e cada um assimilava a seu modo.

Jackson, o mais filósofo e futuro Promotor de Justiça, criticava;

¨Braguiinha se precipitou trazendo a gente de um sitio lindo em João Pessõa para morar nesse pé de morro ¨

Zelia, a freira, defendia Braguinha e aconselhava;

¨Vamos rezar, vamos rezar para melhorar !

Deus vai ajudar ! ¨

Julia e Marden, mais ponderados, só escutavam atentos.

Dizem que os irmãos do meio são mais racionais, mais centrados e medem mais as palavras e as ações.

João, o caçula, mais teatral, futuro médico e compositor, mostrava a cabeça marcada pelas inúmeras pedras que eram jogadas pelos meninos do morro.

João tinha vindo da Paraíba com apenas treze dias de nascido num navio cargueiro e tinha uma forte ligação com o mar.

No dizer do poeta, sua primeira estrada havia sido o mar !

Madalena, a antiga empregada negra, trazida a tira colo da Paraíba,

reforçava o caçula ...

¨ Outro dia vi êsse menino com a cara toda ensanguêntada de uma pedra do morro ¨

Todos queriam ir para Copacabana ! Para o mar !

Lá já morava Cecy, irmã de Rosinha, que incentivava;

¨ Todo entardecer vou ao mar lavar os pés ¨

Rosinha ficava mais agitada ainda;

¨Se Cecy foi para Copacabana, eu também quero ir !

Quero lavar meus pés no mar de copacabana !

Cecy e Rosinha estavam acostumadas com as coisas boas da vida.

Eram filhas de um próspero coronel do Sertão, na cidade de Cajazeiras, na Paraíba.

Enquanto estiveram sob a proteção do pai, o Coronel Mattos, tudo era fartura, felicidades e satisfações.

O Coronel Mattos, havia sido prefeito duas vezes da cidade mas exercia uma liderança muito além da política e era uma espécie de protetor da cidade, até um santo para alguns mais exagerados.

Conta a lenda, que Cajazeiras foi a única cidade do sertão que Lampião, o famoso cangaceiro, não conseguiu entrar e saquear.

Pois esse cidadão, o Coronel Mattos, mesmo vivendo à milhares de quilometros do mar de Copacabana, veio a falecer em plena Avenida Atlântica, numa única vez em que veio ao Rio de Janeiro, em férias, em pleno domingo de carnaval.

De novo, o mar, marcando nosso destino, de uma maneira dramática dessa vez.

Todas essas histórias e coincidências povoavam as cabeças de Rosinha, Braguinha e dos filhos também.

Braguinha era um homem bom, religioso e obstinado, mas tinha certas manias e uma delas era não gostar de cebolas.

E, as vezes, Rosinha ou Madalena, se distraiam e colocavam cebolas na mesa.

E quando Braguinha chegava e sentia o cheiro das cebolas na mesa tinha reações extremadas e às vezes pegava a toalha da mesa e puxava violentamente jogando tudo no chão.

Braguinha andava nervoso com a história de Copacabana e fugia para Petropólis, bela cidade serrana que havia descoberto recentemente atravéz de Zelia, que iria para um convênto na cidade.

Braguinha andava pela Cidade Imperial, pela então Av. 15 de Novembro, sentava num banco da Praça da Liberdade, ao pé da estátua de Dom Pedro II, pensando numa solução, fazendo as contas.

Caminhava um pouco, beirando o Museu Imperial, ia em direção a Catedral de Petropólis, magestosa como as antigas igrejas européias, entrava e muito religioso punha-se a rezar;

¨Jesus, me ajude a levar minha famíliapara o mar de Copacabana ¨

O mar, sempre o mar, a marcar nossas vidas como se fosse um destino!

Braguinha era da Marinha do Brasil, de novo o mar, e tinha a missão de formar os filhos;

¨Meus filhos precisam se formar, nem que sejam burros !

Esse impasse durou ainda alguns anos, ente idas e vindas, acertos e dasacertos !

Afinal, não é nada facil ir para o mar !

Depois de um tempo estavam todos morando lá, quase defronte para o mar de Copacabana !

Braguinha andava por ali, olhava para aqueles predios de luxo, aquele mar fascinante e pensava em voz alta;

¨Como é que conseguimos morar em Copacabana ? ¨

Ele mesmo respondia, convicto;

¨Devem ser as rezas de Zelia ! ¨

E concluia, eufórico;

¨As rezas de Zelia nos levaram para o mar ! ¨

joão joão
Enviado por joão joão em 01/02/2008
Reeditado em 01/02/2008
Código do texto: T842552
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