Nico & Tina
Raspou a ponta do polegar na engenhoca minúscula do isqueiro, três tentativas com faísca tímida, cheiro de crime perfeito, chama que eu venho quente. Esmagou o lábio desidratado, chupando o céu cinza em tragadas mornas, fumo no verão, sim, viciado é assim, com café melhor ainda. Pulmão sombrio e protetor, morada da bolha neurótica desde os treze anos, quase não tusso, ainda mais na frente dos médicos. O odor de fumaça usada, engasgada na contração da glote, enfeita o céu florido dos outros, cada um foge como pode, mas a mira é minha, bullseye astigmático. Amarelo é o grafite da dentadura, escovo às vezes, depois da proteína inconveniente ou antes da língua escassa, sem compromisso, sem escara de ouro branco. Nunca prometi picas, ela sabia, curtia o coágulo com a unha escura, a indecência do carvão molhado. Fugi do pijama branco, desinfetado no sabão industrial, comprado em tamanho médio, planejamento hospitalar, sim, paciente padrão, não. Seis meses é tempo demais, tosse rasgada de menos, ela escorregou mais cedo, fumava o dobro. Fraca pra cacete. Comigo é diferente, mastigo a pastilha com cuspe cheio, equilibro sob a fala. Quando completar o período juro que paro, pra sempre, caso lembre ou mate a fome, o que perder primeiro.