QUANDO É TEMPO DE PARAR ?

Nas duas últimas décadas o processo de interiorização no Brasil manteve-se acelerado e apresentou situações de grande diversidade, tomando-se como parâmetro, obviamente, as grandes cidades que não tendo mais onde crescer, passaram a expandir para as periferias, como também levando parte da massa humana ao interior dos Estados (cidades mais distantes do centro comercial/industrial).

No processo de “Interiorização da Migração” especificamente em São Paulo, os municípios vizinhos à capital, passaram a receber uma população adicional que, em alguns anos trouxe juntos problemas habitacionais pela escassez das moradias, denominando as cidades da chamada região metropolitana como “cidades dormitórios”, pois a massa trabalhadora procura os grandes centros para o labor, voltando no final do dia as suas casas para o descanso merecido.

Nesse contexto, a construção civil passou a levar para as periferias mão-de obra e, na ocasião muitos condomínios residências tipo COHABs (para portadores de pequena renda), passaram a ser construídos para abrigar toda uma população em busca de seu cantinho, gerando com isso também a instalação das chamadas fábricas de bloco e lajes, ou seja de Artefatos de Cimentos.

Na condição de Consultor de Empresas, minha visão empresarial foi aguçada, levando-me a montar uma indústria de artefatos de cimento, numa área de 3.000 m2, com galpões de minha propriedade, aproveitando o momento da expansão do mercado da construção civil.

Passei, então, a produzir blocos e lajes, estabelecendo parcerias com algumas construtoras e também com depósitos de matérias de construção, que absolviam a minha produção e, quando havia excedente vendia para particulares, usando um caminhão também de minha propriedade para as entregas.

Algum tempo depois, na região onde existia apenas a minha empresa, outras de olho na minha movimentação, também se instalaram, mas não chagaram a me afetar diretamente com a concorrência, por que o meu forte era o abastecimento a depósitos de materiais de construção e algumas obras das construtoras que eram parceiras, porém não levou muito tempo para que eu percebesse que minha capacidade instalada de produção (5.000 blocos dia + 500 m2 de lajes/dia), já não estava sendo usada, dando-me um indicativo de que, certamente, a maioria das grandes obras na região havia sido concluída, não havendo meu interesse de passar atender outras regiões mais distantes, pois com isso o meu custo fixo seria alterado e, conseqüentemente, não seria possível manter meu preço imbatível.

Diante dessa certeza, cheguei também a conclusão que era tempo de parar, pois de forma alguma mudaria a minha empresa para outra região mais longínqua, onde além dos alugueres, teria outros custos adicionais. Depois, após dois ou três anos de uso constante dos equipamentos de produção, teria que promover algumas substituições que gerariam mais despesas.

Não tive dúvidas, coloquei a empresa à venda, pois sabia perfeitamente que se teimasse em continuar, poderia amargar prejuízos, foi quando um empresário amigo que residia na região de Itú, mais ou menos 80 kilometros de onde estava instalada a minha fábrica, mostrou-se interessado e comprou-a, montando sua indústria de artefatos de cimento. Quando vim para os EUA em 2001 ele ainda continuava com a fábrica, atendendo a vasta região que residia e que naquela oportunidade se tornara altamente produtiva para aquele tipo de atividade industrial/comercial.

Meus queridos leitores à lição que quero passar com o meu relato acima é que precisamos ter sensibilidade para saber quando parar! Muitas vezes teimamos em continuar “tocando” uma atividade que se mostra superada ou então em função de outras variantes ou houve saturação do mercado ou o foco dos acontecimentos mudou-se para outro rincão, a exemplo da migração existente na área de construção civil.

Estou convicto no entanto, que muitos empresários por não saberem distinguir estas situações acabam falindo e voltam a estaca zero. Tomara que essa não seja a sua situação e, principalmente, que você seja polivalente para encontrar alternativas que lhe dê uma direção certa! Se você perceber que o ramo que desenvolve começa a ficar saturado, ponha a sua barba de molho ou busque incrementá-lo a ponto de fazer a diferença e ser o melhor. Caso contrário poderá sofrer revés que lhe prejudicará por muito tempo ou colocar por terra o sucesso de toda uma vida!

Portanto, algumas lições práticas devem nortear nossa decisão, a saber:

1º) Quando atuamos numa área sazonal, isto é sujeita a alterações em certo tempo, precisamos fazer alguma pesquisa para conhecer se o potencial então existente, ainda continua;

2º) Também temos que ficar atento à concorrência. Verificar se tem havido aumento de concorrentes, pois como a maioria não faz pesquisa científica para conhecer suas possibilidades comerciais, acaba instalando suas empresas apenas por ver certas movimentação numa empresa similar que vem operando com relativo sucesso, que além de saturar o mercado, algumas praticam concorrência desleal;

3º) Verificar de quando em vez, o surgimento de equipamentos mais sofisticado, pois alguns além de aumentar a capacidade produtiva, podem também concorrer para a redução de custos, valendo ficar atento à necessidade de substituição e/ou atualização;

4º) Por fim, determinados ramos do comércio e/ou indústria e/ou prestação de serviços precisam de aperfeiçoamento constante da equipe (Recursos Humanos) e quando o empresário descuida disso pode começar a ter prejuízo.

Alcir Florentino dos Santos

É Advogado, Contabilista, Administrador de Empresas, Filósofo e Teólogo. Especialista em Planejamento Estratégico pela FGV e Pós-graduado em Política e Estratégia pela USP. Atuou por muitos anos como Consultor e Diretor de Empresas em São Paulo.