Folhas verdes
Havia duas pessoas: uma velha horrível, de barbas compridas, cabelos brancos e longos, olhos negros e fundos, coberta por um manto muito escuro; a outra, uma moça saudável, bela, de olhos e aspecto puríssimos.
Caminhavam juntas, sem trocar uma palavra. Vendo o menino, pararam. A primeira falou:
- Eu sou a Morte, e ainda há pouco vim lhe buscar. Você dormia o mais belo dos sonos. Parecia sonhar com o Universo; de tempo em tempo dava sorrisos que me causavam inveja. Movimentava os seus braços, puxando o cobertor e assim expressava a mais perfeita harmonia que já vi em toda minha existência.
Vi seu rosto. Perfeito, um menino lindo, lindo. Você sonhava. Continuava no seu estado inicial, entre as estrelas, num infinito que eu odeio. Bastava um só gesto meu e o seu sonho terminaria.
Você me perturbava. Era a expressão da própria Vida, você, sua cama, seu quarto, seu travesseiro, seu sono...
Eu ali tão perto, com o poder absoluto de terminar com tudo aquilo!
Disse-me a Vida:
- Não faça, não é justo.
“Mas eu não julgo. Não me cabe observar o que é justo ou injusto. Eu apenas faço. Mas escutei a Moça.
Que paz!
Que tranqüilidade e pureza!
Resolvi sair e deixar você com seus sonhos. Se não tivesse agido desta forma, pela primeira vez sentiria remorso. É verdade, eu não tinha este direito.
No mais, de que valeria?
Não conseguirei jamais levar todos os meninos do mundo.”
Quem me contou esta história merece crédito, não foi um qualquer.
Mas até hoje cismo e pergunto: é para acreditar no fato?