SOGRA BRABA - Parte I

Marta estava inquieta. Não estava entendendo esta pressa. Por que tudo assim tão rapidamente? Ser pedida em casamento num dia e já casar no dia seguinte?
- Julio, vamos dar mais um tempo. A gente se prepara melhor. Precisamos ainda de muitas coisas. Preparativos para um casamento não é brincadeira, não.
- Não, Marta, sou homem de palavra. Já falei e não vou voltar atrás. Vamos casar amanhã!
- E onde a gente vai morar, Julio?
- Aqui mesmo na casa de sua mãe. A gente passa um tempo, enquanto arruma um local.
- Oh, homem de Deus!. Toda noiva precisa se preparar. Nem moça bulida casa com essa pressa. Ninguém merece !
- Vai dar tudo certo, meu amor. Você vai ver...
Julio não sabia um terço do rosário de dona Marocas. Mulher valente e mandona. Era a mulher e o homem da casa. Bordava à máquina e mandava em tudo. Seu Juvêncio, coitado, era manobrado como um boi de venta furada. Manicaca. Dona Marocas era quem dava as ordens. Ou mudava, segundo seu duro querer.
Quem iria impedir um plano tão objetivo como aquele? Seria melhor casar logo mesmo. E este dia tão sonhado chegou logo, questão de uma noite. Casaram na capela. Pouquíssimas pessoas. Nada de cerimônia, ou cortejo nupcial. Só as recomendações do padre e a bênção de Deus. Mas os noivos, assim mesmo, foram os astros mais belos e brilhantes. Julio com um paletó azul marinho e Marta de véu e um vestido branco. Era a noiva desejada por qualquer poeta.
Depois, alguns comes e bebes na casa de Marta. Geraldo já estacionara sua rural para levá-los para a praia. Lua de mel. Tudo perfeito, não obstante, acertado tão rapidamente.
Tantos sonhos de amor realizados. Tantas quimeras materializadas na sublimidade do amor, para vir desaguar depois na casa de dona Marocas. Julio nem sabia que tudo já estava previamente ordenado. Coitado, não pensara que estava saindo do céu e entrando no inferno. O quarto, o local de cada móvel, a cama com a cabeceira para o lado da janela, até o enfeite sobre o criado mudo, ninguém podia mover nada. Dona Marocas não permitia.
Logo na manhã seguinte, pouco antes das cinco horas, o clarão da aurora já prenunciava um dia limpo, de sol. Dona Marocas dava as primeiras ordens.
- Acorda, Julio. Tá na hora de levantar, gritou lá do quarto dela, com sua voz carrancuda por sobre a meia parede.
- Vá ajudar aos meninos a carregar água. Quero os potes todos cheios hoje.
- Deixe que eu vou, Marocas.. Não acorde Julio, não. Diz Juvêncio, saindo com a lata.....
- Ei, volte, aqui quem manda sou eu!. Juvêncio parou como um cavalo puxado pelo cabresto. E voltou em cima dos cascos, com a lata vazia.
Julio cochichou baixinho:
- E ai, Marta?
- Vá homem! Disse ela.
- É longe?
- É lá na outra rua.

Continua.......