As Horas da Vida
20.04.25
564
Olhou no seu relógio de pulso: onze horas daquela manhã corriqueira. Manteve-o fixo no horário e o pensamento se foi.
Sentiu os cheiros da comida sendo preparada na cozinha da sua antiga casa por sua mãe. Seria a hora de tomar seu banho, pois o ônibus da escola chegaria pontualmente às onze horas e quarenta e cinco minutos. Estudava à tarde. Sorriu saudoso com a lembrança de seus nove, dez anos.
A memória seguia firme, pois ansiava em ver qual seria a refeição. Tinha uma irmã, mais velha, que ia à escola pela manhã e chegava mais tarde, almoçando com seus pais. Ele, sozinho, pois comia mais cedo.
Banho tomado e vestido, descia do seu quarto para a sala das refeições, deliciando-se com os cheiros do feijão e do arroz fumegantes, das batatas fritas e de um belo e suculento bife à mesa. Sorria feliz, pois era a hora do almoço, uma boa hora.
Saboreava com deleite dois pratos de arroz com feijão, que adorava, com o bife e as batatas, e claro, uma salada de alfaces. Que delícia que era àquela hora, inesquecível!
Depois, escovava os dentes e aguardava a buzina do ônibus escolar tocar brincando com sua cachorra, a Negrinha. No horário, ouvia os dois toques sonoros chamando-o.
Saía da casa, subia as escadas de acesso ao veículo, cumprimentava o motorista e sentava-se com os amigos, na balburdia jovial das brincadeiras que faziam durante o trajeto ao colégio.
Na escola, pulava do ônibus correndo desembestado até a quadra para jogar futebol - sua paixão, para não perder nenhum segundo sequer do tempo que ainda restava para o soar da campainha de inicio das aulas às treze horas, hora chata!
Ela tocava alto e forte encerrando a partida, para seu desgosto. Má hora. Ele subia as escadas para a classe todo “suado”, naquela algazarra alegre e despreocupada, típica das crianças, sem se importar com as horas, pois eram infinitas e imperceptíveis para eles. Bons tempos!
Depois, viria a hora do recreio e voltar a jogar futebol, uma boa hora.
Ao final do dia e término das aulas, ia para o ônibus contar para os colegas as histórias acontecidas naquele dia feliz, voltando para casa. As horas corriam soltas e despreocupadas, alegres!
Chegava esbaforido, pois ainda era dia e tinha algumas horas de brincadeiras. Rápido, trocava de roupa, pegava a bicicleta e ia para a rua se encontrar com os amigos. Às vezes, sua mãe pedia-lhe para ir à padaria comprar pão. Corria com a “magrela” até lá, pois sabia que naquela hora, o pãozinho estaria saindo do forno quentinho. E se fosse uma quinta-feira, dia de macarronada com molho de tomates, com seu perfume embebedando toda a casa, melhor ainda. Saudades…
Com o olhar parado no relógio em seu pulso, despertou do seu devaneio infantil, voltando para a sua realidade septuagenária, caminhando para casa. E, pensou: agora, posso a qualquer hora, rememorar as horas da minha vida.
Sorriu, e seguiu como naquele época despreocupada sem se importar com as horas, pois já era quase a hora do almoço, uma boa hora!