“Adiós, Gardelon”!

15.04.25

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Em quase todas as manhãs, bem cedo e antes de irmos para o trabalho, jogávamos um “racha” de basquete no clube em meia quadra. Faz trinta anos. O tempo passa...Saudades!

Inicialmente, éramos eu e um amigo antigo de escola, e ao longo dos embates, que eram bem barulhentos, pois eu gostava de gritar ao fazer uma cesta a lá Micael Jordan (que pretensão a minha), outros foram se agregando ao nosso grupo, pois a quadra era passagem para a academia, e presenciavam nossa bagunça. Quando faltava um para inteirar as duplas, e alguém passava, o convidava para jogar conosco.

Assim foi que se juntou a nós o “Coxinha”. O apelidamos assim , pois ao arremessar a bola para a cesta, levantava o joelho direito em ângulo reto, e colocávamos a mão nele desequilibrando-o e errando a cesta- ele ficava fulo e falava que não valia. Ríamos largamente.

Infelizmente, “Coxinha” já nos deixou faz alguns anos. Saudades!

Também, tínhamos um “hermano”, que por nadarmos juntos em treino da equipe master de natação do clube, e gostava de “jugar baloncesto”, entrou para a turma do “racha” matinal.

Aparecia na quadra sempre com sua bola, e falando aquele dialeto portenho enrolado, que nada entendíamos. Ele ria e começava a cantarolar suas milongas, rindo zombando de nós.

O apelidamos de “Gardelon”, em homenagem a Carlos Gardel.

Tinha um jeito engraçado de bater a bola, o fazia com força, e às vezes, conseguíamos roubá-la, pois escapava de suas mãos. Ele xingava:

- “No me rompas las pelotas!”

A cena era cômica, pois ficava praguejando baixinho, transtornado consigo mesmo, durante a partida.

E, ao fazer uma cesta, era uma alegria só, rindo e dizendo todo pomposo com seu portunhol:

- “Chupa! El mejor del mundo”!

Nossas vidas seguiram, nossos jogos matinais rarearam, até acabarem. Encontrávamo-nos em algumas ocasiões no clube, e ao vê-lo, chamava-o imitando-o no jeito de falar:

- “Como estás, “Gardelon”?”

Sorria e me respondia:

- “Que passa, Fernandito?”

Anos depois, o reencontrei na piscina, ia nadar quase todos os dias, e me contou que teve um AVC, causado por operação de catarata, deixando-o cego de um dos olhos. Mas, sempre com seu espírito otimista, pois era bastante, seguia com sua vida em frente. Um lutador!

Estivemos juntos no final do ano passado em uma “pizzada” no clube, e com meu amigo de escola de mais de 50 anos e do grupo também . Foi muito alegre e gostoso o jantar. Nosso último encontro. Ele estava feliz, falante e animado, querido!

Semana passada, recebi a triste notícia que ele faleceu, vítima de infarto fulminante, surpreendendo-me e entristecendo-me bastante.

“Adiós, Gardelon”!

E siga com seu jeito portenho de ser, cantando e alegrando com seus tangos e milongas onde estiver, pois nos deixou saudades e boas lembranças.

Homenagem ao querido amigo Romulo Cesar Peviani, falecido em 10.04.2025.

Fernando Ceravolo
Enviado por Fernando Ceravolo em 15/04/2025
Reeditado em 19/04/2025
Código do texto: T8310224
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