A fofoqueira ansiosa!
Dona Fofó, apelido dado pela população do bairro a uma senhora gorda, evangélica e muito ansiosa, não se aborrecia com o apelido, pois desde a infância esse codinome lhe foi imposto pelas pessoas do bairro Morro Alto, onde nasceu. Seu nome de batismo ninguém sabia; talvez nem ela se sentisse confortável se alguém a chamasse pelo seu nome verdadeiro. Dona Fofó era considerada a repórter oficial da vida alheia. Ela tinha vários desafetos, processos por calúnia e difamação, além de ter chegado várias vezes às vias de fato com algumas mulheres do bairro, sempre por espalhar fofocas.
Mas, quando ia aos cultos, Dona Fofó se transformava: cantava hinos, servia como obreira e dava testemunhos fortes que faziam muitos chorarem, sentindo o Espírito Santo testificar aquelas palavras, tidas por muitos como uma revelação do próprio Deus. No entanto, ao colocar os pés fora do templo, o dispositivo da fofoca disparava em seu cérebro, e seus olhos e ouvidos se aguçavam. Seu nível de ansiedade chegava ao máximo, e a compulsão por fofocar era inevitável.
Dona Fofó tinha um arsenal de táticas para espalhar maledicências, muitas vezes de forma sutil e estratégica. Ela compartilhava informações negativas sob o pretexto de "preocupação", o que tornava mais fácil passar os mexericos adiante. Ela distorcia e exagerava os fatos. Um dia, ao passar por um restaurante, viu sua vizinha com algumas amigas tomando guaraná, mas o radar exagerado de percepção de Dona Fofó espalhou que era cerveja, o que quase custou o casamento daquela senhora inocente. Dona Fofó era astuta e sempre começava a fofoca dizendo: "Me prometa que não vai contar a ninguém." Assim, criava um ar de exclusividade, misturava sua conversa com a da vítima, criava um factóide e espalhava o boato adiante. Nunca era direta em seus comentários; sempre deixava algo no ar que levava os outros a tirarem conclusões precipitadas. O WhatsApp dela era um túmulo de rumores e informações pessoais compartilhadas de forma não autorizada.
Com o passar dos anos, Dona Fofó foi ficando isolada. Já havia rompido com amigos, familiares e colegas, que se afastaram devido a mal-entendidos ou conflitos gerados pela disseminação de informações falsas ou prejudiciais. Um dia, enquanto andava pelo bairro com seu detector de fofoca ligado ao máximo, ouviu uma discussão acalorada atrás de um muro de uma construção. Eram os pedreiros batendo boca. Dona Fofó entrou no quintal da construção, andando na ponta dos pés para observar quem estava discutindo. Com o olhar fixo nos homens raivosos, pisou em um vão que era um poço profundo, ainda em construção. Os trabalhadores só ouviram o grito desesperado e o som da queda. Correram para lá, e um deles disse, muito assustado: "Esse é o fim de Dona Fofó. Eu sabia que um dia sua curiosidade a levaria ao fundo do poço.