O Menino de Asas!
01.04.25
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Não se sabe como e porque daquele menino ter asas.
Sim, nascera com esse atributo que muitos gostariam de ter, de voar para as alturas, ver as coisas lá de cima, com amplidão, horizonte e liberdade sem fim. Pois, ele podia.
Quando bebê, nada demonstrava que teria essa incrível condição de voar, era uma criança normal, e os médicos também nada perceberam.
Crescendo, suas costas começaram a se alargar e duas asas de límpidas e alvas penas brancas começaram a nascer. A princípio, como as de galinhas, pequenas e curtas, que as usava para curtos voos no quintal da sua casa, morava em cidade interiorana, assustando os cachorros e gatos que lá havia, dando-lhes rasantes. Sorria da travessura.
Deliciava-se em poder alçar seu corpo aos galhos das árvores, espantando os pássaros que lá se empoleiravam. Eles, também achavam estranho aquele pequeno voador.
Depois, com suas asas maiores e podemos sustentar seu corpo, divertia-se com os outros pássaros, principalmente com as andorinhas, que ao entardecer, voavam em grupos alegres e infantis, como ele, em enorme algazarra. Acompanhava-as, imitando seu voo indefinido e sem rumo, com idas e vindas, subindo e descendo aleatoriamente, feliz em ver que era quase como elas. Quase!
Virou assunto na cidade, no país e no mundo. Vários cientistas vieram visitá-lo para conferir a veracidade do menino com asas, fazer pesquisas, tentar descobrir como aquilo acontecera. Uma incógnita da natureza.
Com o passar de alguns anos, suas asas se tornaram largas. Agora, podia voar longe, pairar longamente no céu como as fragatas ou urubus.
Mas, elas se tornaram um incomodo para o seu cotidiano, pois era difícil de dormir na cama, de sentar-se à mesa nas refeições, de tomar banho de chuveiro, ou de ir com seus pais de carro a algum lugar.
Por isso, começou a ficar muito tempo voando, indo para lugares distantes da sua cidade, maravilhado com tudo o que via, e quando descia em algum local, o espanto e curiosidade das pessoas com a visão daquele menino alado, era enorme. Aglomerações se formavam em seu entorno, com todos querendo saber como era poder voar.
Um dia, pairando muito alto no céu límpido e azul, viu a curvatura da terra definida, e maravilhou-se, pois nunca imaginou que um dia seria quase como um astronauta.
Mas, curioso, quis ir mais alto, para ver se conseguiria olhar o escuro do infinito, as estrelas, os planetas, enfim o universo.
Bateu intensamente suas asas e subiu, subiu, subiu. O céu começou a ficar negro, as estrelas despontaram coalhando de pontos prateados o escuro infinito, e lá embaixo, o seu pequenino mundo, como uma bola azulada vagando pelo nada. Que maravilha!
Olhou acima e viu a Lua na sua brancura perfurada de crateras, uma esfera esbranquiçada e distante, impávida, observando-o no silencio sepulcral do vazio etéreo.
Então, sentiu uma forte dor na sua cabeça, ficou ofegante, sem ar e perdeu os sentidos. Despencou das alturas inconsciente.
Acordou de chofre e assustado na sua cama, com o coração pulsando forte e desenfreado. Ofegava.
Já era de manhã, e os pássaros piavam alegremente.
Abriu a janela, o dia nascia, o sol tremulo e fraco irradiava sua luz ainda tênue na sua janela e no seu rosto, acalmando-o. Ele sorriu, e ao ver suas amigas andorinhas voando alegres, empoleirou-se no espaldar da janela e começou a bater seus braços, piando para ir ao seu encontro....