A Casa e o Vento


     

     O vento chegou sem aviso. Primeiro, um sussurro, uma brisa inquieta ressoando pelas frestas. Depois, ganhou força, invadindo cada canto da casa, sacudindo as cortinas, espalhando pelo chão as lembranças gravadas em quadros de boas memórias.

     Em profunda aflição, corri. Tentei salvar o que podia. Segurei porta-retratos, recolhi os papéis que continham os desenhos dos meus sonhos e que voavam como folhas de outono, protegi com meu próprio corpo o que me parecia mais precioso. Mas o vento era mais rápido, mais insistente, mais intenso. A TV, os móveis, os livros — nada havia que ele não perturbasse. Quanto mais eu lutava, mais tudo se desorganizava.

Então, desnorteado pelo alvoroço, cansado, parei. Fechei os olhos e orei.

     Nesse momento, senti algo diferente. Era como uma presença suave, um sopro que não era vento, que não feria nem confundia, mas uma essência que consolava. Estranhamente, não veio de fora, mas de dentro e, ao mesmo tempo, de além de mim, de um lugar mais alto. Uma força discreta me fez olhar para o que sempre esteve ali, comigo. Percebi, então, que o poder de mudar a situação não estava na minha corrida frenética nem na minha capacidade de solução, mas em algo muito mais simples. Não! Não era sobre segurar tudo ou parar o vento, mas sim sobre minha vida que é templo e que é casa, era sobre proteger meu coração.

     Com dificuldade, comecei a fechá-las, uma a uma. Firmemente, girei as trancas, devagar. Uma, depois outra, e continuei. O vento gemeu do lado de fora, insistiu, mas logo perdeu a força. Não pôde mais entrar. Ele entendeu que agora, quem estava ali dentro comigo era maior do que ele.

     O silêncio voltou, suave, quase acolhedor. Os quadros, um a um, voltaram às paredes. As cortinas repousaram. Meus sonhos foram preservados e estavam ali, nos papéis que, embora amassados e desalinhados, continuavam inteiros.

E enfim, compreendi: a paz nunca esteve na luta contra o vento, mas na decisão de fechar as janelas para tudo que me adoece e me afasta da Essência da Vida — meu amigo, meu irmão, meu Senhor: Jesus!

Saulo David
Enviado por Saulo David em 31/03/2025
Reeditado em 31/03/2025
Código do texto: T8298485
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