Na Praça de Alimentação…

Salões de beleza de bairro têm preços bem menores que os de shoppings, e a gente ainda se surpreende, e se diverte, com o que acaba ouvindo. São várias histórias que ficamos conhecendo, assim como a que segue,  por exemplo.

As funcionárias falavam sobre Raquel, uma cliente, que não entendia o ódio que Lívia nutria por ela. Nem se conheciam, afinal. E que esta só sabia que Lívia era a atual do seu ex-marido - que não via desde que se separaram, porque amigos em comum lhe contaram, e nada além disso. Vai-se lá entender certas coisas, as manicures confabulavam.

E diziam que o destino, que às vezes age com traquinices, promoveu o encontro das duas no dia do aniversário da tal cliente, que comemorava num restaurante na praça de alimentação de um shopping center na Zona Norte. A “atual” estava a passeio na cidade e foi parar no mesmo lugar (destino maroto - observação minha), vejam só!

Raquel estava em desvantagem pois não conhecia a mulher, e a outra, que havia vasculhado a sua rede social e a tinha visto em fotografias diversas, a reconheceu de imediato. Uma das moças, que escutava atentamente, comentou: - "Isso é staq... staelk... Ah, esse negócio assim, de perseguir os outros, né?" - maneando a cabeça como um sim, a manicure que contava assentiu e continuou com a história. Disse que a nova mulher  escolheu uma mesa bem próxima das em que se reuniam aniversariante e amigos e que, enquanto eles se divertiam abrindo presentes, Lívia foi se incomodando, imaginando que riam dela. Até que não aguentou, se dirigiu à mesa onde estava a rival, e perguntou "qual era a graça". Os amigos se entreolharam sem entender, e a “atual” partiu para a ofensa.

Brigas entre mulheres são sempre desconcertantes e Raquel tentava evitar o confronto, mas a outra não dava trégua. Até que a vítima mandou um: “Que que é isso? Só pode ser mal-amada”! Pronto! Mexeu na ferida da “atual” (as manicures riam...) Lívia perdeu a linha e, como em briga de mulher tem sempre puxão de cabelos, agarrou as madeixas da Raquel diante de uma plateia que já havia se formado e, atônita, assistia à  bizarra cena.

As companheiras tentavam apartá-las, mas os ânimos estavam quentes entre as duas. Num tom ameaçador, Lívia dizia que ela deixasse seu marido em paz, porque sabia tudo sobre a sua vida  - onde morava, onde trabalhava, a praia que frequentava, até a comida de que mais gostava -, e que ela deveria era morrer, pois só assim sumiria da vida do Ronaldo. Foi quando Raquel, começando a entender do que se tratava, bradou: “Você é louca, por acaso? Não sei do que está falando, minha senhora”!

Tinha dito isso tão alto que só naquele instante Lívia se deu conta do show que estava oferecendo na praça. Arrumou o cabelo e a roupa, deu um safanão na pseudo rival e pegou a bolsa para sair do lugar. O garçom a alertou sobre o pedido que havia feito para viagem e ela se dirigiu ao caixa, bufando de ódio. Pegou o pacote e, no momento em que saia, ouviu o comentário baixinho da Beth, uma das amigas da Raquel:Tudo isso por causa daquele Véio da Havan sem paletó verde? Ela só pegou o bagaço da laranja, amiga. Por isso tá laranja de raiva...”! Gargalhada geral no salão, e, entre risos, a manicure retoma a história: "Aí, danou-se! A tal da Lívia voltou com tudo e..."

Bom, fica para a próxima vez em que eu retornar ao salão! A história rendeu pano pra mangas, pelo visto, mas a funcionária que me atendia tinha acabado de arrumar as minhas unhas e, já na antessala de acesso, não pude ouvir o final do caso... ou desse quase causo. Mas uma coisa é certa: Lívia vai pensar duas vezes antes de bisbilhotar a vida de alguém novamente. Ou não, quem sabe, pois para um stalker, sempre pode surgir uma nova e incauta vítima...
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[Conto, "quase" Causo, baseado numa história real, mas com a liberdade poética que é permitida aos escritores.
Naturalmente, os nomes verdadeiros foram preservados]














Imagens: Geradas por Marise Castro




 
Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 24/03/2025
Código do texto: T8293325
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