Caixão Fechado
Afonso estava atrasado. Deixou a panela de arroz no fogão ligado e foi tomar banho pra ganhar tempo. A janela estava estava aberta, entrou uma corrente de vento e apagou a chama. O gás continuou a sair. Saindo do banho, Afonso não nota o cheiro do metacapitano enquanto se concentra em passar desodorante. Sente uma leve tontura, mas não dá importância.
O gás vai preenchendo o ambiente. Afonso prepara a marmita com a cabeça pensando numa desculpa pra dar ao seu supervisor. Já está quinze minutos atrasado. A lâmpada do corredor que dá pra porta está mal-colocada. Saindo apressado enquanto fecha os botões da camisa, Afonso a acende e logo em seguida vem uma explosão cinematográfica.
Os transeuntes se assustam com o barulho. Os cacos de vidro das janelas se projetam em direção à rua, três pessoas num ponto de ônibus ficam feridas, um motoqueiro perde o controle da motocicleta e colide fatalmente com um caminhão que vinha na mão contrária. Apesar do reflexo do motorista, a batida é inevitável e o veículo invade a calçada só parando num poste que cai arrebentando os fios e explodindo um transformador deixando quatro quarteirões sem energia elétrica.
Afonso vira manchete no jornal vespertino. Noventa porcento da pele carbonizada, não resistiu. Uma pequena multidão se aglomera em volta saciando sua curiosidade mórbida.
Um capitão do corpo de bombeiros dá entrevista à uma TV local alertando sobre os riscos de incêndios domésticos e coisa e tal. O âncora do telejornal aparece com uma cara sóbria e passa para a próxima pauta.