A HISTÓRIA DE SEU CHICO

Seu chico era um senhor de bom coração. Todos no bairro recorriam aos seus préstimos e ele não dizia não a quem quer que fosse lhe procurar. Era um tal de

- Seu chico me empresta isso;

- Seu chico me empresta aquilo,

- Seu chico me ajuda aqui;

- Seu chico faz isso pra mim?

Era assim que o dia de seu chico começa e terminava. Sempre com as pessoas a buscarem seus préstimos.

Ele, por outro lado, sempre alegre, a todos atendia sem distinção ou cara feia. Ate no centro onde era voluntario, seu Chico atuava. Respeitoso, diligente, a todos atendia na recepção com educação e cordialidade.

Mas, estamos na terra, e como é de se esperar, nem tudo é perfeito. No dia que era para receber o dinheiro da aposentadoria, seu Chico se transformava: Recebia o dinheiro, comprava as flores para colocar no túmulo da “falecida” e de uma filha que desencarnou precocemente; depois, ia pro bar do seu Manoel, tomar todas, só saindo carregado pelos “amigos” de ocasião. Nesse processo levava dois ate quatro dias sem voltar à sua normalidade.

O pessoal onde morava, lamentava a situação e, junto com os amigos do centro, resolveram ajuda-lo no tratamento para alcoolismo e obsessão. Cada um em sua área de atuação. Ate o seu Manoel, dono do bar, entrou no mutirão que foi batizado, carinhosamente de “Chico saúde”. Assim, montaram verdadeira campanha ao lado da casa de Chico e passaram a acompanha-lo em tudo, não deixando brecha para que ele enveredasse pelo caminho do álcool. Já no centro, seu chico passou a ser tratado à distância pelos seus irmãos, que ampliaram suas atividades assistenciais, colocando-o em outras atividades, que ocupasse seu tempo de forma mais útil.

O tempo foi passando e seu Chico foi cada vez mais se recuperando, se fortalecendo e deixando o vício, sem mais por gota mínima de álcool na boca. Chegou ao ponto de nem o álcool para higienizar as mãos ele usava.

Depois de um ano lutas em prol do projeto Chico saúde, alcançou-se verdadeira vitória. Tanto no plano físico quanto no plano espiritual. E assim, a vida de seu Chico voltou a uma certa normalidade. Atendendo a todos, sendo solicito e colaborando, no centro, em muitas tarefas edificantes.

Ao completar cinco anos, o grupo novamente se juntou e resolveu fazer uma festa de aniversário. Assim, encomendaram os quitutes e sucos para o referido dia. Seria um almoço e ocorreria la, na sala da casa do velho Chico, que não cabia de contente. E assim chegou o dia. E, como não poderia deixar de ser, foi aquela alegria, todos na sala, entre conversas e gracejos, a brincar, comer e conversar.

Mas o inesperado aconteceu. Pense que em um dado momento, seu Júlio, que estava em pé ao lado de um velho armário, se desequilibrou e caiu com armário e tudo.

Qual foi a surpresa de todos.? Não foi a queda de seu Júlio, mas as garrafas que se encontravam atrás do armário. Com a queda do armário, foram reveladas, para todos ali presentes.

Um silencio sepulcral se fez ouvir. Parecia que ninguém respirava. Uns olhando para o alto, outros entre si e todos, sem saber o que dizer ou fazer.

Seu Chico, percebendo o embaraço, foi até o local onde as garrafas se encontravam, escolheu uma, abriu e deu uma boa talagada. Depois com os olhos bem abertos, voltou-se para a assembleia atônita e disse: - Isso é que é uma bebida de qualidade. Desce redondo... e, depois, deu uma sonora gargalhada... Era água fluidificada que ele guardava atrás do armário... Velhos hábitos...