A MANCADA

Lembro com toda nitidez de minha mente, os idos de 1965 no Diocesano Santa Luzia. Ensinava português, o Pe. Alcir Leopoldo, que sabia a matéria de có e salteado. Ai de qualquer autor que tivesse colocado alguma matéria em desacordo com ele. Pe. Alcir simplesmente jogava o livro fora, chamava-o de burro e dava a matéria por sua conta e risco. Risco zero, porque ele sabia demais.
Chegando em Fortaleza em 2002, resolvi fazer o segundo grau, pela quarta vez, trinta e seis anos depois. Sim, iniciei três vezes no Santa Luzia, e abandonava no meio do ano, para namorar. Até que em 1966, mais uma vez, deixei de estudar para casar.
Conclui o segundo grau prá valer no CEJA aqui da Guilherme Rocha. Agora com 55 anos e mais responsável. Conclui tudo. Média 9,3.

A mancada vem agora. Resolvi fazer um concurso do Tribunal de Justiça. Comprei apostilas, Preparei-me com muito afinco e motivação. Estudei muito. Direito Constitucional, Penal, Português, tudo. Também pudera. Estudei dez horas por dia, durante três meses. Fui para a prova bastante animado e no propósito de, como se diz na gíria dos concurseiros, “fechar a prova”.
Fiquei muito chateado, porque não levei relógio no dia da prova e me perdi no tempo. Mesmo assim respondi religiosamente tudo que tinha certeza. Deixei apenas cinco questões para o final. Eu sabia, mas preferi analisar mais demoradamente. Lembro que quando o fiscal comunicou que faltavam 30 minutos, a adrenalina me bombardeou de vez. Senti meu coração acelerar e perdi a capacidade de concentração.
Passei todas as questões para o gabarito e acabou o tempo. Ainda marquei mais três, conscientemente e ficaram duas em branco. Ouço ainda a voz do fiscal martelando: - O tempo acabou, pessoal!. Quem não entregar a prova agora mesmo, vou colocá-la em separado e faço constar na ata.
Para não deixar nada em branco, marquei, logo no gabarito, de qualquer jeito, aquelas duas fatídicas questões. Não tive mais tempo de lê-las no caderno de prova.
Errei ambas.
Fiquei com raiva de mim mesmo, porque as respostas eram exatamente as opções que considerara corretas quando da minha leitura inicial.
Pelos critérios de escolha, eu teria ficado em primeiro lugar, entre treze mil candidatos, por conta de minha idade. Fiquei em 95º lugar. O concurso prescreveu em 2006 e não fui convocado.

Esta mancada sempre tilinta na campainha da minha memória.