O Último Reflexo
O Último Reflexo
Era uma cidade sem nome, encoberta por uma névoa perpétua. Não havia mais dias ou noites, apenas uma interminável transição de tons cinzentos que abafavam qualquer vestígio de luz. As ruas eram desertas, mas o vento parecia sempre murmurar, como se as vozes de antigos habitantes ainda habitassem os cantos sombrios dos edifícios deteriorados. Não havia mais memórias, apenas ecos de um passado que nunca fora registrado.
Em uma dessas ruas, uma figura caminhava, sua silhueta diluída pela neblina. Seu nome era Elias, mas o nome nunca teve mais importância que o vento que sussurrava ao seu redor. Ele sabia que as pessoas existiam ali antes dele, mas agora, ele era tudo o que restava. Não havia mais razão para continuar, mas a caminhada continuava.
Elias passava pelas ruínas de um teatro, onde um palco vazio refletia um vazio ainda mais profundo. O palco era um espelho de sua própria vida — antes cheio de promessas e sonhos, agora imerso na destruição silenciosa do tempo. Não havia mais peças para serem encenadas, apenas o eco vazio de risos que nunca haviam existido.
Ele parou por um momento, os olhos fixos em um pedaço de vidro quebrado no chão. O reflexo que ali se via não era mais o de um homem, mas o de uma sombra vazia, uma caricatura de um ser que existira, mas que agora só restava como um movimento automático. O reflexo sorriu para ele — mas não um sorriso de alegria, mas de uma aceitação mórbida. Um sorriso que dizia: "Isso é tudo o que existe. O reflexo é vazio, assim como você."
Elias não sabia o que o trouxe até ali. Talvez tivesse procurado algo. Talvez ainda o fizesse. Mas o vazio se estendia como uma verdade imutável. Sua mente tentava se apegar a um passado, a uma ideia, a um propósito, mas esses eram apenas fragmentos quebrados de algo que nunca se completou. Ele se sentou ao lado do vidro quebrado e olhou para a cidade em ruínas, vendo sua própria imagem refletida nas fachadas desmoronadas.
— Para que tudo isso? — ele sussurrou para si mesmo. — Para que a busca? Para que a dor? Nada importa. Nada será lembrado.
A voz de Elias era baixa, mas o vazio ao seu redor respondeu com um eco frio, repetindo suas palavras como se fosse uma reflexão automática do próprio nada. Ele se levantou e caminhou sem rumo, seu corpo movendo-se com a inércia de quem já perdeu toda esperança de mudança.
O céu acima dele estava vazio, uma tela plana e infinita de cinza, onde nenhuma estrela ousava brilhar. A cidade, essa metrópole despojada de qualquer identidade, era um reflexo do mundo interno de Elias: uma existência que se arrastava sem qualquer expectativa, como uma chama que já se apagou, mas que ainda é levada pelo vento, sem nenhum destino.
Elias nunca encontrou uma resposta para o que o trouxe até ali. A resposta nunca viria. Pois a busca, no final, é apenas um reflexo de um desejo que nunca será saciado. Ele viu sua própria imagem mais uma vez — não no vidro quebrado, mas no espelho do universo, um reflexo que jamais se alinharia com a verdade.
Ele sorriu novamente, sem alegria, sem dor. Apenas uma aceitação silenciosa. O mundo não importava. Ele sabia que seu reflexo seria o último a desaparecer.
E assim, Elias continuou a caminhar, mas já não sabia se estava indo para algum lugar ou apenas vagando, sendo consumido pela própria ausência de sentido. No fim, ele se tornou uma sombra, um eco de uma existência que nunca teve começo, meio ou fim. E o universo, imutável, apenas o observava, sem dizer uma palavra, como sempre.